Todos nós fomos moldados por padrões familiares, traumas do passado e tradições. Esses fatores influenciam nossa maneira de enxergar o mundo, muitas vezes nos levando a dividir a vida em compartimentos isolados: como se fé, trabalho, saúde e emoções pertencessem a esferas separadas, que não se tocam.
O problema é que essa visão fragmentada da existência tem distorcido a maneira como vivemos e nos relacionamos com Deus. Em muitos casos, acabamos adotando uma espiritualidade exagerada, que supervaloriza a ação do mal e subestima a grandeza de Deus. É um desequilíbrio que afeta a caminhada cristã e a vida em comunidade, especialmente quando não reconhecemos a importância de um cuidado integral com o espírito, a alma e o corpo.
UM SER INTEGRAL, NÃO DIVIDIDO
Na carta aos tessalonicenses, Paulo nos apresenta um princípio essencial:
“O mesmo Deus da paz os santifique em tudo. E que o espírito, a alma e o corpo de vocês sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.”
(1 Tessalonicenses 5.23)
Não somos apenas seres espirituais, temos uma alma, com emoções e pensamentos, e um corpo, com necessidades físicas reais. A santificação, portanto, precisa alcançar todas essas áreas. Negligenciar qualquer uma delas é caminhar rumo ao desequilíbrio.
Luciano Subirá, em seu livro O cuidado com o corpo, reforça essa verdade ao destacar que a compreensão do ser integral muda nossa forma de viver. Quando reconhecemos que nossa alma e nosso corpo também importam, passamos a cuidar melhor da nossa saúde emocional e física não por vaidade ou humanismo, mas por obediência e reverência ao Deus que nos criou por inteiro.
NÃO ESPIRITUALIZE O QUE É NATURAL, NEM NATURALIZE O QUE É ESPIRITUAL
Um dos maiores desafios nesse caminho é lidar com os extremos. Há quem espiritualize tudo e ignore causas naturais para suas dores e dificuldades. Outros desprezam a dimensão espiritual da vida, confiando apenas no que é visível e palpável.
Muitos problemas físicos ou emocionais são agravados por escolhas de vida, alimentação desequilibrada, falta de descanso e excesso de estímulos. Não podemos esperar que a oração resolva aquilo que precisa de disciplina, limites ou mudanças de hábito. Tampouco devemos reduzir tudo a técnicas humanas, ignorando o poder transformador da graça.
Jesus confrontou com firmeza os fariseus que viviam uma religiosidade de fachada: belos por fora, podres por dentro (Mateus 23.27). Ele também teve um diálogo marcante com Nicodemos, um homem que, embora religioso, não compreendia a dimensão espiritual do novo nascimento:
“O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito.”
(João 3.6)
Esse trecho revela que, embora nasçamos de novo no espírito, continuamos sendo seres naturais. A espiritualidade verdadeira não ignora a carne, mas aprende a conduzi-la em obediência. Nicodemos simboliza tantos de nós: bem intencionados, mas presos a uma mentalidade natural, que não enxerga além da lógica e da tradição.
A MUDANÇA COMEÇA NA MENTE
O estilo de vida atual tem levado muitos ao limite. O ritmo acelerado, a sobrecarga de estímulos e a negligência com o corpo e as emoções têm adoecido pessoas que, por fora, parecem espiritualmente fortes.
A cura, nesses casos, começa pela renovação da mente. É preciso repensar os hábitos, resgatar uma rotina saudável, nomear as emoções, lidar com traumas e abrir espaço para a restauração. A dor emocional não é abstrata: ela afeta o corpo, o sono, o apetite, a energia, o coração.
Olhar para o ser humano com uma perspectiva integral nos ensina a não julgar o outro apenas pelos seus erros ou atitudes externas. A cura da alma requer humildade, clareza e coragem para encarar a própria história e se abrir ao processo de restauração.
O CAMINHO DO EQUILÍBRIO
Viver com equilíbrio é resistir à tentação de ir aos extremos. É reconhecer que somos espírito, alma e corpo, e que cada parte precisa ser alimentada, cuidada e santificada. É aprender que a fé não se resume ao domingo ou ao momento de oração, mas se estende às decisões diárias, ao cuidado com a saúde, ao modo como tratamos as emoções.
Talvez o que Deus está pedindo é que você desacelere e preste atenção no que está adoecendo sua alma. Espiritualidade saudável é aquela que nos transforma por completo sem dividir a vida em gavetas.
Que o Senhor nos ajude a sermos pessoas inteiras, curadas, equilibradas e maduras. Foi para isso que fomos chamados: para sermos semelhantes a Cristo, em todas as dimensões da vida.
ESTUDO BASEADO NO LIVRO ‘CLÍNICA DA ALMA’ DO PASTOR RENATO HENRIQUES, ADQUIRA JÁ EM LOJA.ORVALHO.COM