Conhecer ou não uma verdade espiritual pesa muito numa decisão. Não só pelo fato de que o conhecimento nos favorece para escolher bem, mas também pelo fato de que cada um de nós será julgado na direta proporção do conhecimento que tem.
Em época posterior ao julgamento de Cristo, na verdade dezenas de anos depois, a Bíblia volta a fazer menção de Pôncio Pilatos e sua decisão quanto a Jesus; e faz isto exatamente dentro do contexto do assunto que agora estamos abordando:
“Entretanto, falamos de sabedoria entre os maduros, mas não da sabedoria desta era ou dos poderosos desta era, que estão sendo reduzidos a nada. Pelo contrário, falamos da sabedoria de Deus, do mistério que estava oculto, o qual Deus preordenou, antes do princípio das eras, para a nossa glória. Nenhum dos poderosos desta era o entendeu, pois, se o tivessem entendido, não teriam crucificado o Senhor da glória”
O apóstolo Paulo escreveu aos Coríntios e lhes expôs a diferença entre o conhecimento natural das coisas e o entendimento espiritual das verdades de Deus. E quando falava acerca disto, tomou como exemplo esta porção que transcrevemos, onde fala dos poderosos da época de Jesus não terem sabedoria de Deus (espiritual) e que justamente pela falta dela não conheceram quem era Jesus Cristo, pois se tivessem conhecido não o teriam crucificado.
Isto envolve Pilatos, Herodes, e todos os sacerdotes, anciãos e autoridades de Israel. Fala das autoridades, dos poderosos, dos que podiam decidir a respeito da crucificação de Jesus; e é claro, Pilatos está dentro.
Embora a referência seja a todos eles, devido à nossa aplicação sobre Pilatos e o paralelo entre a decisão dele e a nossa, quero deixar de lado a figura das demais autoridades que se envolveram direta e indiretamente na crucificação de Cristo, e olhar somente para o governador romano. E isto só por questão de enfoque, embora o princípio se aplique a cada um deles.
A afirmação bíblica é, portanto, que se Pilatos tivesse uma revelação espiritual de quem era Jesus jamais o teria mandado para a cruz. E a partir desta afirmação queremos tecer algumas considerações e demonstrar alguns princípios.
JUÍZO NA PROPORÇÃO DO CONHECIMENTO
No pretório, houve um pequeno diálogo entre Jesus e Pilatos. E neste pequeno diálogo há uma afirmação de Cristo que nos revela um detalhe interessante sobre questões como “conhecimento” e “juízo”.
“Você se nega a falar comigo? “, disse Pilatos. “Não sabe que eu tenho autoridade para libertá-lo e para crucificá-lo?”
Jesus respondeu: “Não terias nenhuma autoridade sobre mim, se esta não te fosse dada de cima. Por isso, aquele que me entregou a ti é culpado de um pecado maior”. João 19:10,11
A resposta de Jesus a Pilatos quer dizer o seguinte: “Você só tem este poder de decidir o que fazer comigo porque Deus te deixou ter, e porque sabe que o que você vai escolher não vai afetar o plano divino”. Mas o detalhe que vem a seguir é que me chama a atenção: “aquele que me entregou a ti é culpado de um pecado maior”.
Só nesta frase vemos que Jesus está falando sobre duas coisas distintas:
1. O terem rejeitado Jesus foi considerado pecado. Isto mostra que quem errou na escolha pecou, mesmo que a crucificação de Cristo tenha sido benéfica ao mundo por ser o meio de redenção dos nossos pecados.
2. Há uma diferença entre o pecado cometido por Pilatos e o que cometeram os que entregaram Jesus a ele. Este grupo envolve desde Judas, o traidor, até as autoridades dos judeus. E a diferença entre a gravidade de pecado (Jesus lhe chamou “maior”) deve-se ao quanto conhecimento cada um possuía. Das autoridades religiosas que acompanharam o ministério de Jesus esperava-se mais, pois eram conhecedores das Escrituras e presenciaram os milagres de Jesus. De Judas, então, nem se fale! Mas Pilatos, um gentio, era o mais ignorante acerca do conteúdo das promessas acerca da vinda do Messias.
Vemos portanto, que quanto maior for o conhecimento da pessoa sobre Jesus, maior juízo haverá sobre sua escolha. Como Pilatos conhecia menos, seu juízo será menor. Como os sacerdotes e anciãos conheciam mais, maior será o seu juízo.
Na epístola de Tiago encontramos uma afirmação que relaciona o julgamento que receberemos com a proporção do conhecimento que temos: “Meus irmãos, não vos torneis, muitos de vós, mestres, sabendo que havemos de receber maior juízo” (Tg 3.1). O que conhece mais a ponto de ser um ensinador, tem maior responsabilidade; isto vale no âmbito pessoal e também ministerial, pois se ao ensinar, o fizer de forma errada, tal pessoa dará conta a Deus. Esta diferença é vista em outras afirmações bíblicas, como a que o apóstolo Pedro faz sobre quem conheceu a Jesus e o abandonou depois de já ter o conhecimento:
“Portanto, se, depois de terem escapado das contaminações do mundo mediante o conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, se deixam enredar de novo e são vencidos, tornou-se o seu último estado pior que o primeiro. Pois melhor lhes fora nunca tivessem conhecido o caminho da justiça do que, após conhecê-lo, volverem para trás, apartando-se do santo mandamento que lhes fora dado.”
Está estabelecida clara diferença entre o que conheceu e o que não conheceu. É lógico que o não conhecer não inocenta a pessoa, mas faz com que se exija menos dela para a tomada de sua decisão. Jesus mencionou em seus ensinos a diferença entre dois homens que erraram e seriam ambos julgados, mas segundo a proporção de seu conhecimento:
“Aquele servo que conhece a vontade de seu senhor e não prepara o que ele deseja, nem age para agradá-lo, será castigado com extrema severidade. Contudo, aquele que não conhece a vontade do seu senhor, mas praticou o que era sujeito a castigo, receberá poucos açoites. A quem muito foi dado, muito será exigido; e a quem muito foi confiado, muito mais ainda será requerido.”
Tanto um como outro seriam punidos, pois ambos erraram; o que conhecia a vontade do senhor, por não agir à altura, e o que não conhecia por não procurar conhecê-la. As falhas são distintas: o que conhecia pecou por rebelião, enquanto que o pecado do outro foi omissão ou mesmo desinteresse em procurar saber a vontade do senhor. Mas o fato é que o primeiro errou ativamente enquanto que o segundo errou passivamente, só que a ignorância não justifica, tem um juízo menor, mas tem juízo da mesma forma. O que devemos fazer é procurar conhecer e, então obedecer a vontade de Deus. O próprio fato de você estar lendo essas verdades traz sobre sua vida uma responsabilidade maior, que antes você não tinha.
Se Pilatos tivesse conhecido quem era Jesus, não o teria crucificado. Quando Cristo estava na terra, haviam diferentes opiniões acerca dele; ouviam-se testemunhos diferentes sobre sua identidade. Então como saber quem era realmente ele? Como conhecê-lo?
Os que realmente o conheceram – seus apóstolos – precisaram de mais do que uma opinião, eles receberam uma revelação de Deus acerca de Jesus. Observe o que diz a Bíblia.
“Indo Jesus para as bandas de Cesaréia de Filipe, perguntou a seus discípulos: Quem diz o povo ser o filho do homem? Responderam: Uns dizem: João Batista; outros: Elias; e outros: Jeremias, ou algum dos profetas. Mas vós, continuou ele, quem dizeis que sou eu? Respondeu Simão Pedro: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. Disse-lhe Jesus: Bem-aventurado és, Simão Bar-Jonas, porque não foi carne e sangue quem to revelou, mas meu Pai que está nos céus.”
Percebemos por este episódio narrado pelo evangelista Mateus que as opiniões eram diversas, mas Pedro soube quem realmente Jesus era não porque ficou ouvindo os comentários dos homens, mas ele recebeu uma revelação de Deus! Seu coração se abriu de tal forma que o Espírito Santo pode dar testemunho de quem era Jesus. Não basta tentar conhecê-lo com o intelecto, com a razão; é preciso mais que isto. Você deve orar e pedir ao Pai que está nos céus que abra o seu coração para que haja uma compreensão profunda, espiritual, acerca de Jesus. Isto acontecia com pessoas nos dias da Bíblia, continua acontecendo hoje e pode ocorrer com você. Veja mais um exemplo bíblico, que se deu numa ocasião em que o apóstolo Paulo pregava o evangelho:
Certa mulher chamada Lídia, da cidade de Tiatira, vendedora de púrpura, temente a Deus, nos escutava; o Senhor lhe abriu o coração para atender às coisas que Paulo dizia.”
Assim como Deus abriu o coração desta mulher, também quer abrir o seu. Pilatos pecou por não conhecer; contudo, ninguém pode usar a falta de conhecimento como desculpa. Se nos falta mais conhecimento para decidirmos o que fazer de Jesus chamado Cristo, devemos buscá-lo. Se você tem dificuldade quanto a entender a redenção que Cristo veio trazer à humanidade por meio de sua morte e ressurreição, ou quanto à sua divindade ou mesmo seus ensinos e como compreender a Bíblia, busque ajuda, mas não estacione na dúvida e nem tampouco na ignorância espiritual.
Se você ainda não conseguiu ver o senhorio de Jesus e a importância de submeter-se a ele, decidindo bem em seu tribunal, se ainda tem dificuldades para liberar sua fé e assumir um compromisso de alto nível, não faça sua escolha ainda. Investigue mais. Procure saber mais. Se o governador da Judeia tivesse feito isto e conhecido mais, não teria rejeitado Jesus Cristo. E sei que se você o fizer, também não o rejeitará.
Extraído do livro “Que Farei de Jesus Chamado Cristo?” – disponível na nossa loja virtual.
Autor: Luciano P. Subirá. É o responsável pelo Orvalho.Com – um ministério de ensino bíblico ao Corpo de Cristo. Também é pastor da Comunidade Alcance em Curitiba/PR. Casado com Kelly, é pai de dois filhos: Israel e Lissa.