Quando entendemos a importância de não buscar honra para nós mesmos, a preocupação é menor com o que as pessoas pensam de nós e o foco, maior no que Deus vê em nós. Muitos buscam reputação diante de homens, quando deveriam se preocupar com sua reputação diante do Senhor.
O contraste entre os comportamentos de Saul e Davi é enorme. Deus rejeitou Saul e escolheu Davi, mas normalmente não achamos que a preocupação errada com a reputação possa ter sido fator determinante na escolha divina.
O rei Saul demonstrava valorizar mais a reputação diante dos homens do que diante de Deus, razão pela qual decidiu desobedecer a ordem divina em troca de ficar bem com o povo, que já o estava deixando (1 Sm 13.8-12). O rei Davi, mesmo depois de pecar, não demonstrou preocupação com aquilo que poderia perder diante dos homens, e sim com o quanto aquele pecado afetaria sua relação com Deus:
“Não me repulses da tua presença, nem me retires o teu Santo Espírito. Restitui-me a alegria da tua salvação.”
Depois de ter pecado, a única coisa que Saul pareceu ter visto como perda foi a posição diante dos homens; por isso pediu que Samuel o honrasse perante o povo (1 Sm 15.30). Davi, por sua vez, após pecar, demonstrou grande pesar por ter ferido o coração de Deus, tanto que admitiu:
“Pequei contra ti, contra ti somente, e fiz o que é mau perante os teus olhos”
Percebemos o desprendimento quanto a reputação humana até no desentendimento entre Davi e Mical, quando o rei retornava para casa depois de trazer de volta a arca da aliança para Jerusalém. Mical, que carregava o legado de Saul, seu pai, desprezou a atitude de Davi, acusando-o de exposição excessiva perante o povo (2 Sm 6.16, 20-22). A preocupação dela era o que as pessoas pensariam do rei. Já Davi não se importava com isso, pois sabia que o verdadeiro Rei não era ele, e sim Aquele que estava representado na arca (2 Sm 6.14,15,20-22).
Quantos têm falhado nisso! Consideremos o pecado de Ananias: ele não se preocupou em agradar ao Deus que tudo vê e sabe, e sim a homens que não sabiam que ele havia retido parte da oferta. Por que alguém doaria a maior parte da venda de uma propriedade, se não queria, de fato, entregar ao Senhor seus bens materiais? Qual outra razão motivaria a oferta? Imagino que Ananias entregou boa parte de seus recursos financeiros como “uma compra de popularidade”, em troca de “conquistar o respeito” dos demais cristãos da comunidade. Preocupou-se mais com a reputação diante dos homens do que com a reputação diante de Deus.
Da mesma forma, o problema de Simão, ex-mágico de Samaria, não foi só ter oferecido dinheiro para comprar dos apóstolos o dom de levar pessoas a receberem o Espírito Santo por meio da imposição de mãos. Normalmente lembramos apenas da parte em que Pedro o repreendeu por isso.
Se você levar em consideração quem foi Simão antes de o evangelho chegar a Samaria, pode entender melhor essa história:
“Ora, havia certo homem, chamado Simão, que ali praticava a mágica, iludindo o povo de Samaria, insinuando ser ele grande vulto;; ao qual todos davam ouvidos, do menor ao maior, dizendo: Este homem é o poder de Deus, chamado o Grande Poder. Aderiam a ele porque havia muito os iludira com mágicas.”
Ele havia sido o grande vulto da cidade. De repente, Filipe chega proclamando o evangelho de Cristo com poder e “rouba a cena”, com diversos sinais e milagres operados (At 8.5-8).
Acredito que o verdadeiro motivo que levou Simão a oferecer dinheiro a Pedro tinha a ver com o anseio por ter de novo o reconhecimento que perdera. Ele estava se dispondo a “comprar” a popularidade (At 8.18-20). Nesse
anseio, pecou contra Deus (At 8.21-24).
Por outro lado, Filipe recebe a ordem divina de deixar para trás uma cidade em meio a um grande avivamento para ir evangelizar um homem. Que contraste! Diferentemente de Simão, para Filipe o que importava não era a audiência das multidões, mas o sorriso no rosto do Senhor.
Precisamos escolher diante de quem queremos ter reputação.
Um episódio bíblico que mexe muito comigo é o da morte de Estevão. O ministério desse camarada era uma verdadeira potência, tanto na palavra como nos dons do Espírito. Mas, apesar de tão promissor, teve pouca duração. Tornou-se o primeiro mártir.
Estevão não priorizava a aprovação humana, basta analisar o resultado de sua pregação:
“Ouvindo eles isto, enfureciam-se no seu coração e rilhavam os dentes contra ele”
Em contrapartida, alcançou reputação diante do Senhor:
“Mas Estêvão, cheio do Espírito Santo, fitou os olhos no céu e viu a glória de Deus e Jesus, que estava à sua direita, e disse: Eis que vejo os céus abertos e o Filho do Homem, em pé à destra de Deus.”
Em toda a Bíblia, você verá exemplos de reis assentados em tronos nas audiências públicas. Os textos também falam sempre de Jesus assentado à destra de Deus. Mas, na visão de Estevão, Jesus estava em pé! Isso contraria o padrão. Creio que Cristo mandava uma mensagem a seu servo: “Estevão, alguém como você eu recebo de pé!”
Essa é a única honra que conta. Vivamos para alcançá-la!
Como o apóstolo Paulo afirmou, é possível exaltar-se até mesmo por causa das gloriosas experiências com Deus (2 Co 12.7). Portanto nunca podemos deixar de guardar o coração, assim evitaremos cair no mesmo erro e, consequentemente, na mesma condenação do Diabo.
Autor: Luciano P. Subirá. É o responsável pelo Orvalho.Com – um ministério de ensino bíblico ao Corpo de Cristo. Também é pastor da Comunidade Alcance em Curitiba/PR. Casado com Kelly, é pai de dois filhos: Israel e Lissa.