Chamo de “tratamento” o amadurecimento que o Senhor produz em nossas vidas em meio às provas e tribulações. O nosso caráter é aperfeiçoado, enriquecido em meio à adversidade. Isto não significa, porém, que o crescimento vem somente desta forma.
Há muitas formas de crescermos espiritualmente: o envolvimento com a Palavra, que é o nosso alimento espiritual; o ensino e a ministração dos mais maduros; a nossa vida de oração pessoal e as respostas e experiências que dela decorrem. Há tantas coisas que podem ser mencionadas! Mas, ao falar de “tratamento” refiro-me à forma de Deus tratar com as áreas difíceis das nossas vidas, especialmente aquelas em que não queremos ou não permitimos que o Senhor opere em nós e nos transforme profundamente.
“Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou.”
O contexto da afirmação de que somos mais que vencedores nos mostra isto. O versículo começa dizendo:
“Mas em todas estas coisas”. A palavra “mas” revela que independentemente do que foi mencionado antes, a vitória nos pertence e chegará a nós! E a frase “em todas estas coisas” mostra que a vitória não somente virá, mas também em meio a que condições ela virá.
O que são “todas estas coisas” a que Paulo se refere? O próprio texto bíblico responde. Basta que o examinemos dentro do seu contexto:
“Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada? Como está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte o dia todo; fomos considerados como ovelhas para o matadouro. Mas em todas estas coisas somos mais que vencedores por aquele que nos amou”
Veja exatamente o que o apóstolo Paulo mencionou com a intenção de descrever “todas estas coisas”:
- Tribulação
- Angústia
- Perseguição
- Fome
- Nudez
- Perigo
- Espada
Aqui temos a resposta do que são “todas estas coisas”, e isto não se parece com um Evangelho em que o crente é intocável. Contudo, não é tampouco a forma como devemos viver, mas algo a que ocasional e temporariamente, podemos estar sujeitos. Observe que não estou dizendo que temos que passar por estas coisas, mas que podemos passar por elas (pode ser que aconteçam, pode ser que não). Mesmo assim, se acontecerem, serão ocasionais e temporárias. O quadro de tribulação certamente será mudado, pois, nestas coisas, somos mais que vencedores! Deus não nos chamou para vivermos nelas, mas Ele também nunca disse que não havia a
menor possibilidade de surgirem ao nosso redor, ou até mesmo de “ficarem um pouquinho”.
Portanto, ser “mais que vencedor” não é uma isenção destas coisas, mas é a vitória em meio a elas e apesar delas. A tribulação poderá vir e durar um tempo, mas, no fim dela, você será vencedor, pois você está em Cristo. No entanto, você não apenas vencerá, mas também chegará ao fim da luta e da adversidade mais maduro, mais forte, e experimentará um tratamento todo especial de Deus em seu caráter cristão. As tribulações vêm e vão, mas, se permanecermos firmes no Senhor sempre as venceremos! Além disso, quando elas se vão, elas nos deixam melhores que antes. É o que diz a Bíblia:
“Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações, sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança. Ora, a perseverança deve ter ação completa, para que sejais perfeitos e íntegros, em nada deficientes.”
Algumas deficiências são tratadas em nós pelo poder das provas, as quais são permitidas pelo Senhor para que possamos chegar a ser perfeitos e íntegros, ou completos.
Não creio que o Senhor quer fazer com que soframos, mas a nossa teimosia e a nossa rebeldia nos impedem de aprendermos. Penso que quanto mais maleáveis e tratáveis formos, e quanto mais correspondermos com rendição ao Senhor, menos tratamentos teremos. Não creio, porém, que haja um indivíduo tão perfeito e puro, com um domínio tal do seu coração enganoso, que ele não precise passar por nenhuma espécie de tratamento. Até mesmo Jesus, sem nunca ter pecado, passou por isto:
“Ele, Jesus, nos dias da sua carne, tendo oferecido, com forte clamor e lágrimas, orações e súplicas a quem o podia livrar da morte e tendo sido ouvido por causa da sua piedade, embora sendo Filho, aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu e tendo sido aperfeiçoado, tornou-se o Autor da salvação eterna para todos os que lhe obedecem”
Jesus – como Homem – aprendeu a obediência pelas coisas que Ele sofreu. A Bíblia diz que Ele foi aperfeiçoado em meio ao sofrimento (este é o propósito das provas). E, se até mesmo Ele passou por este processo, o que nos leva a pensarmos que estamos isentos e que estas coisas não acontecerão conosco?
O Pai Celestial tem uma indescritível habilidade de aproveitar as circunstâncias, mesmo as mais negativas, e usá-las positivamente em nossas vidas. Isto não quer dizer que sempre viveremos nelas. Temos uma promessa de vitória! As tribulações chegarão ao fim, e nós teremos o livramento do Senhor; mas quando elas tiverem terminado, deixarão um tratamento divino em nosso caráter, o qual ocorreu durante essas circunstâncias aparentemente negativas.
No meu caso, por exemplo, no acidente de carro que sofri, tive perdas materiais. Tudo o que perdi foi restituído a mim de uma forma multiplicada depois, mas, até que isto acontecesse, eu não conseguia entender por que Deus havia permitido que Satanás roubasse os meus bens. O momento da restituição foi a vitória que eu esperava, mas, quando ela veio, descobri que eu não apenas havia vencido, mas que também havia me tornado mais que vencedor naquela situação, pois aprendi muito acerca de valores.
A nossa mente está muita presa a valores materiais somente. Só pensamos em números, e com um cifrão na frente. Eu avaliava as minhas perdas usando a calculadora – quanto eu havia perdido no carro, em roupas, em livros, e coisas assim. Mas, quando Deus começou a mostrar-me os lucros, vi que tais dividendos não podiam ser somados numa calculadora. O fato de o Senhor ter impedido que eu caísse e comprometesse minha vida espiritual e ministerial, como também de ter me conduzido ao lugar e à obra que Ele tinha para a minha vida não pode ser medido em números! Hoje eu pagaria muitas vezes mais do que eu aparentemente perdi naquele acidente, para poder ter as coisas que com ele me advieram. Para o nosso Deus, não há nada que não possa redundar em bênção na vida dos que O amam e estão em Seu propósito eterno.
“Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.”
Não há nada, absolutamente nada, que possa nos acontecer e que fuja do controle de Deus. Ele conhece todas as coisas antecipadamente. Ele também conhece o futuro e onde cada experiência do passado será útil. A Sua soberania é impossível de ser descrita ou explicada.
Há certas tribulações que podem transformar as nossas vidas, forjando em nós um melhor caráter para os propósitos de Deus. Muitas pessoas só conhecem os verdadeiros valores em meio às perdas materiais. Jó foi alguém que conheceu a bênção da prosperidade, mas em meio às perdas, ele conheceu valores do seu relacionamento com Deus que eram ainda mais profundos que os que ele possuía antes, a ponto de poder dizer:
“Antes eu te conhecia só de ouvir falar, mas agora meus olhos te veem”
Em determinadas ocasiões de dificuldades teremos que aprender a depender de Deus somente. Estamos sendo tratados. Estamos sendo levados para o matadouro. Estamos morrendo para o nosso “eu”, triturando a nossa carne. José passou por anos de provas terríveis. Ele foi vendido como escravo pelos seus irmãos, distanciou-se de sua família, e foi sujeito a uma grande vergonha e humilhação. Contudo, ele não se entregou. Ele lutou até tornar-se o mais alto funcionário na casa em que entrou como escravo. Quando parecia que as coisas estavam se acalmando, ele foi preso injustamente por sua lealdade ao seu senhor. Na prisão, lutou contra as circunstâncias e chegou a ser chefe dos presos em seus trabalhos. Somente depois de muitos anos é que veio a sua vitória. Ele foi promovido a governador e livrou o seu povo de ser destruído pela fome. Não creio, porém, que foi só isto e nada mais. Havia um novo homem dentro de José, amadurecido pelas provas, digno de governar, que reconhecia que todas as coisas estavam sob o controle de Deus, a ponto de dizer o seguinte aos seus irmãos:
“Vós, na verdade, intentastes o mal contra mim; porém Deus o tornou em bem, para fazer, como vedes agora, que se conserve muita gente em vida.”
Quem dera cada um de nós pudesse ver esta soberania de Deus sobre as nossas circunstâncias, como José viu! Isto, no entanto, não acontece sem as provações. São nelas que aprendemos a ver Deus numa dimensão mais profunda.
Infelizmente, em nossos dias, o Evangelho diluído que se prega está formando uma geração de medrosos e covardes, que correm diante das adversidades. Contudo, uma reviravolta está por acontecer! O Senhor levantará um exército cuja fé estará firmada n’Ele, e não nas circunstâncias, e o diabo não poderá barrá-los com nada. Este dia se aproxima, e este estudo é uma convocação divina para que você se una a este exército. O Senhor quer uma geração de crentes valorosos, que realmente “podem tudo n’Aquele que os fortalece”.
Texto extraído do livro “O Agir Invisível de Deus”
Autor: Luciano P. Subirá. É o responsável pelo Orvalho.Com – um ministério de ensino bíblico ao Corpo de Cristo. Também é pastor da Comunidade Alcance em Curitiba/PR. Casado com Kelly, é pai de dois filhos: Israel e Lissa.