Quando eu ainda era menino, em certa ocasião, saí com uma quantia em dinheiro para comprar algo no supermercado para a minha mãe. Coloquei o dinheiro no bolso e, obviamente, contava com ele na hora de pagar aquela compra, mas não o encontrei. Revirei o bolso várias vezes à sua procura, e não o achei, até que me dei conta de que havia um furo num dos cantos daquele bolso! Como é triste contar com as suas reservas e descobrir que elas já não existem! Este é um exemplo do que acontece com quem não deixa Deus ser o Primeiro em sua vida (e em suas finanças).
Uma das principais razões da falta de prosperidade financeira é abordada na Bíblia como tendo a sua raiz no egoísmo e na falta de sensibilidade para com o que deve ser feito em prol da Casa e do Reino do nosso Deus. Se, por um lado, a Lei das Primícias nos conduz à bênção por colocarmos Deus em primeiro lugar, por outro lado, deixá-Lo por último, como a parte menos importante de nossas vidas, traz maldição.
E isto é algo que tem acontecido a muitos cristãos em nossos dias. O verdadeiro problema deles não é uma falta de oração por prosperidade, mas uma verdadeira inversão de valores.
NOS DIAS DE AGEU
Vemos nos dias do profeta Ageu que o povo que voltara do cativeiro babilônico se encontrava sem disposição alguma de reedificar o Templo do Senhor. Eles davam desculpas a respeito de sua responsabilidade, mas, ao mesmo tempo, edificavam as suas próprias casas para o seu próprio conforto. E Deus protestou contra isto:
“Assim fala o Senhor dos Exércitos: Este povo diz: Não veio ainda o tempo, o tempo em que a Casa do Senhor deve ser edificada. Veio, pois, a palavra do Senhor, por intermédio do profeta Ageu, dizendo: Acaso, é tempo de habitardes vós em casas apaineladas, enquanto esta casa permanece em ruínas?”
Muitas pessoas passam toda a sua vida pensando unicamente em si mesmas, sem se disporem a fazer nada para Deus. Trabalham somente pelo seu conforto e fazem tudo para estarem em tranquilidade, mas não conseguem se dispor para servirem a Deus. Muitas vezes não entendemos que, enquanto estamos correndo atrás de nossas próprias coisas, o Senhor está esperando algo diferente de nós. Foi o que Deus disse ao Seu povo por meio do profeta Ageu:
“Subi ao monte, trazei madeira e edificai a casa; dela me agradarei e serei glorificado, diz o Senhor.”
Deus protestou contra a atitude do povo e demonstrou esperar que eles se envolvessem em Sua obra. Ele revelou também que a razão de não estarem prosperando (pelo contrário, viam os seus bens e provisão desaparecendo misteriosamente) era o fato de não se importarem com a edificação da Sua Casa.
“Tendes semeado muito, e recolhido pouco; comeis, porém não vos fartais; bebeis, porém não vos saciais; vestí-vos, mas ninguém fica quente; e quem recebe salário, recebe-o para o meter num saco furado.”
Muito esforço e pouco resultado! Falta de realização na dimensão de conquistas alcançadas! Insuficiência! Tudo isto era visto na vida do povo hebreu dos dias do pós-exílio babilônico. Houve também a mais contundente afirmação sobre inexplicáveis perdas materiais e financeiras: o saco furado (outras versões usam o termo “saquitel”). Mesmo o que tentavam guardar ou economizar sumia como se houvesse sido depositado num saco furado. Vazava como areia seca por entre os dedos. Como acontece com muitas pessoas hoje!
Estes não eram apenas sintomas de um momento de crise econômica, e sim de uma ausência da bênção do Senhor. Precisamos aprender a edificar com a bênção de Deus. Fazer algo sozinhos ou debaixo da graça do Pai Celestial são coisas completamente diferentes:
“Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que edificam; se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela. Inútil vos será levantar de madrugada, repousar tarde, comer o pão de dores, pois aos seus amados ele o dá enquanto dormem.”
Embora o trabalho seja um meio de provisão, o qual Deus usa para suprir os Seus filhos, fica clara a diferença entre quem alcança algo sozinho e quem o faz com a bênção do alto.
Deus nunca quis que o homem tivesse a presunção de alcançar a prosperidade sozinho. Esforço e trabalho produzem resultados, mas isto somente não nos leva ao melhor de Deus. A bênção do Senhor faz isto. E, quando quebramos princípios (como o povo fez nos dias de Ageu), além de não entrarmos na bênção divina, ainda produzimos o efeito inverso: atraímos sobre nós a maldição. O profeta Malaquias, contemporâneo de Ageu, também anunciou o mesmo tipo de juízo:
“Roubará o homem a Deus? Todavia, vós me roubais e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas. Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, vós, a nação toda.”
A maldição vem por não darmos a Deus a primazia, assim como a bênção vem pelo fato de O colocarmos em primeiro lugar.
A PROSPERIDADE NÃO É FRUTO SÓ DO ESFORÇO
O desejo de Deus, no entanto, não é julgar o Seu povo com maldição. É abençoá-lo com as Suas provisões.
“Trazei o dízimo todo à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e provai-me nisto, diz Jeová dos Exércitos, se não vos abrir eu as janelas do céu, e não derramar sobre vós uma bênção até que não haja mais lugar para a recolherdes.”
Precisamos entender que a prosperidade não é um mero resultado do esforço humano, mas uma consequência da bênção de Deus. Desde a Lei Mosaica o Senhor admoestava o Seu povo a não ter a presunção de achar que alcançaria a prosperidade por si só:
“Guarda-te para que te não esqueças do Senhor, teu Deus, não guardando os seus mandamentos, e os seus juízos, e os seus estatutos, que hoje te ordeno; para que, porventura, havendo tu comido, e estando farto, e havendo edificado boas casas, e habitando-as, e se tiverem aumentado as tuas vacas e as tuas ovelhas, e se acrescentar a prata e o ouro, e se multiplicar tudo quanto tens, se não eleve o teu coração, e te esqueças do Senhor, teu Deus, que te tirou da terra do Egito, da casa da servidão…”
“Não digas, pois, no teu coração: A minha força e o poder do meu braço me adquiriram estas riquezas. Antes, te lembrarás do Senhor, teu Deus, porque é ele o que te dá força para adquirires riquezas; para confirmar a sua aliança, que, sob juramento, prometeu a teus pais, como hoje se vê.” (Deuteronômio 8.17 ,18)
Ninguém deveria achar que prosperou sozinho a ponto de se esquecer de Deus. Cada indivíduo deveria reconhecer a bênção do Céu sobre si e ser grato por isto. No caso de se esquecerem do Senhor, Ele usaria uma forma especial para chamar a atenção do Seu povo: eles perderiam esta Sua bênção.
O Senhor sempre corrige o Seu povo, não porque Ele queira nos prejudicar, mas justamente porque Ele nos ama e deseja o nosso melhor. Foi o que Ele fez nos dias do profeta Ageu. Isto fica bem claro em Suas palavras ao povo:
“Agora, pois, considerai tudo o que está acontecendo desde aquele dia. Antes de pordes pedra sobre pedra no templo do Senhor, antes daquele tempo, alguém vinha a um monte de vinte medidas, e havia somente dez; vinha ao lagar para tirar cinquenta, e havia somente vinte. Eu vos feri com queimaduras, e com ferrugem, e com saraiva, em toda a obra das vossas mãos; e não houve, entre vós, quem voltasse para mim, diz o Senhor. Considerai, eu vos rogo, desde este dia em diante, desde o vigésimo quarto dia do mês nono, desde o dia em que se fundou o templo do Senhor, considerai nestas coisas. Já não há semente no celeiro. Além disso, a videira, a figueira, a romeira e a oliveira não têm dado os seus frutos; mas, desde este dia, vos abençoarei.”
Vemos que a insuficiência se estabeleceu como uma maldição na vida dos israelitas. O estoque de grãos se dissipava antes de ser consumido. Toda sorte de empecilhos à prosperidade instalou-se, impedindo assim a bênção financeira.
Todo o esforço no trabalho era recompensado com perdas, mas assim que o povo decidiu retomar a edificação da Casa de Deus, a frutificação começou a acontecer de fato! O Senhor disse que os abençoaria a partir do dia em que voltassem a investir o seu tempo, trabalho e recursos no Reino de Deus.
O problema de Israel era um só: o egoísmo e indiferença para com Deus. E este não é apenas um problema do passado. Há muitos cristãos atualmente que estão presos em seu egoísmo e não conseguem pensar em outra coisa além de si mesmos. Quando nos recusamos a investir na Casa de Deus é porque queremos usar em prol de nós mesmos os recursos que economizaremos nestas ofertas. Foi o que aconteceu com Ananias e Safira, os quais, mesmo ofertando, continuavam pensando em si mesmos. E Deus não pode abençoar este tipo de atitude!
O REINO DE DEUS EM PRIMEIRO LUGAR
Este princípio da bênção ligada à atitude que temos para com as coisas de Deus não é uma injustiça cometida contra nós. Alguns acham que Deus e os Seus pregadores nos ameaçam com problemas financeiros para nos coagirem a darmos. Mas, ao instituir este princípio, o Senhor o fez para o nosso próprio bem. Quando damos a Deus, quebramos a cadeia do egoísmo e Deus pode nos abençoar.
Jesus nos ensinou a não nos preocuparmos com o que havemos de comer, beber ou vestir (Mt 6.25). Não porque estas coisas não sejam importantes, mas porque a forma de obtê-las não é mediante o esforço ou a ansiedade, e sim colocando os devidos princípios espirituais para operarem em nosso favor. E isto inclui uma mudança de prioridades e valores em nossas vidas:
“Mas buscai primeiro o Reino de Deus, e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas.”
Quando colocamos o Reino de Deus em primeiro lugar e nos importamos com as Suas coisas, nós O vemos Se importando com o que diz respeito a nós.
OS ABALOS DE DEUS
Você já ouviu falar dos abalos de Deus? Eles são o modo como Deus faz com que as nossas vidas sejam sacudidas, para que as coisas abaláveis sejam removidas e as inabaláveis permaneçam. O escritor de Hebreus foi divinamente inspirado para falar deste assunto:
“Tende cuidado, não recuseis ao que fala. Pois, se não escaparam aqueles que recusaram ouvir quem divinamente os advertia sobre a terra, muito menos nós, os que nos desviamos daquele que dos céus nos adverte, aquele, cuja voz abalou, então, a terra; agora, porém, ele promete, dizendo: Ainda uma vez por todas farei abalar não só a terra, mas também o céu. Ora, esta palavra: Ainda uma vez por todas, significa a remoção dessas cousas abaladas, como tinham sido feitas, para que as cousas que não são abaladas permaneçam. Por isso, recebendo nós um reino inabalável, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus de modo agradável, com reverência e santo temor; porque nosso Deus é um fogo consumidor.”
Vemos que a rebeldia dos que não dão ouvidos à voz divina será repreendida com abalos. Note que não estamos falando sobre Deus recompensar aos fiéis com os Seus abalos, e sim dos que rejeitam a voz de Deus, ou seja, a Sua Palavra. O salmista escreveu acerca disto:
“Deus… tira os cativos para a prosperidade; só os rebeldes habitam em terra estéril.”
“Esperastes o muito, e eis que o muito veio a ser pouco, e este pouco, quando o trouxeste para casa, eu com um assopro o dissipei. Por quê?, diz o Senhor dos Exércitos; por causa da minha casa, que permanece em ruínas, ao passo que cada um de vós corre por causa da sua própria casa. Por isso os céus sobre vós retém o seu orvalho, e a terra os seus frutos. Fiz vir a seca sobre a terra e sobre os montes; sobre o cereal, sobre o vinho, sobre o azeite e sobre o que a terra produz; como também sobre os homens, sobre os animais e sobre todo o trabalho das mãos.” (Ageu 1.9-11)
É muito estranho vermos Deus dizendo que Ele fez com que o muito esperado se tornasse pouco na colheita do Seu povo e, ainda depois, que Ele assoprou sobre o pouco, fazendo-o dissipar-se. Não combina com a atual mensagem de prosperidade o fato de Deus mandar os céus reterem o orvalho e a terra reter o seu fruto, nem tampouco Ele fazer vir a seca!
Mas Deus fez tudo isto. Por quê? Porque é somente com Deus abalando as coisas naturais na vida do Seu povo que as coisas espirituais teriam o seu lugar. Eles só estavam pensando em si mesmos e haviam abandonado a restauração da Casa do Senhor, mas Deus conseguiu recuperar a atenção e o serviço deles de uma forma muito especial.
Quando o escritor de Hebreus escreveu sobre as coisas abaláveis que seriam removidas, ele também falou sobre as inabaláveis que permaneceriam, e então ele acrescentou que recebemos um reino inabalável! Ou seja, quando estamos sufocando as coisas espirituais por uma dedicação voltada somente ao que é natural, Deus pode fazer tremer o que é abalável, o natural, para que, caindo estas coisas, permaneça em nossas vidas somente o que é espiritual, e então a nossa reconstrução poderá começar a partir deste ponto.
De nada adianta edificarmos somente para nós mesmos. Devemos edificar para o Senhor em nossas vidas, pois, quando os abalos de Deus vierem, só ficará de pé o que construímos para o Senhor, e o que é nosso, o que é humano, cairá. Em Lucas 14.28-30, Jesus assemelhou a vida cristã à edificação de uma torre, mostrando que também edificamos no plano espiritual.
Tenho percebido isto, não somente em minha própria vida e igreja, mas também em contato com muitas outras igrejas e pastores. É um fato! Tal qual nos dias de Ageu, quando nos esquecemos das coisas de Deus e queremos buscar somente as nossas próprias coisas, Deus não apenas deixa de ter um compromisso de nos abençoar, como também Ele pode nos julgar e disciplinar, uma vez que a responsabilidade de edificar o Reino de Deus é nossa.
Porém, quando agimos de forma correta e colocamos o Senhor em primeiro lugar, tudo muda. A bênção e a provisão divina fluem milagrosa e abundantemente.
Por que Deus estava sacudindo as finanças do Seu povo naqueles dias depois do Exílio? Porque os israelitas haviam se tornado egoístas e descomprometidos com o Reino de Deus, e o propósito destes abalos era mudar a atitude do povo.
Quando eles compreenderam que os abalos eram uma forma de Deus fazê-los voltar a investir em Sua Casa, eles se animaram a obedecê-Lo, fiados na promessa de que desta forma a prosperidade viria sobre eles. Numa de suas profecias, Ageu deixa claro que os abalos visavam trazer a Deus os recursos financeiros necessários para a restauração de Sua Casa:
“Pois assim diz o Senhor dos Exércitos: Ainda uma vez, dentro em pouco, farei abalar o céu, a terra, o mar, e a terra seca; farei abalar todas as nações e as cousas preciosas de todas as nações virão, e encherei de glória esta casa, diz o Senhor dos Exércitos. Minha é a prata, meu é o ouro, diz o Senhor dos Exércitos. A glória desta última casa será maior do que a primeira, diz o Senhor dos Exércitos; e neste lugar darei a paz, diz o Senhor dos Exércitos.”
Deus nunca está contra o Seu povo. Estes abalos visavam corrigi-los e tratá-los, e não destruí-los. Tão logo voltaram a cumprir a vontade de Deus, eles foram abençoados. Quando o Livro de Hebreus fala sobre os abalos de Deus, ele também fala sobre “retermos a graça” (Hb 12.28), pela qual servimos a Deus de forma agradável. “Reter” significa “não perder, não desperdiçar”. Isto nos mostra que, mesmo em meio aos abalos divinos, podemos estar sob a graça de Deus, desde que não nos rebelemos, insistindo em deixar os nossos valores invertidos, de forma contrária aos valores da Palavra.
Quando somos abalados pelo tratamento divino, devemos corresponder em obediência e mudança de mente, de atitude. Ao obedecermos, a disciplina dará lugar à bênção do Senhor. Embora Deus houvesse abalado a vida financeira deles, Ele o fez somente até que eles voltassem a priorizar o Reino de Deus. Ele abalou as coisas abaláveis, para que as inabaláveis permanecessem.
Talvez a sua vida esteja sendo abalada pelo Senhor, e você não sabe o que fazer; aliás, não há realmente nada a fazer quando os abalos divinos chegam, a não ser permanecermos firmes e reconstruirmos a partir do que sobrou. Deus quer mudar os nossos valores, levando-nos a colocarmos o Reino d’Ele em primeiro lugar. E, quando o fazemos, o processo é invertido, e então Ele nos abençoa e nos leva à reconstrução de tudo o que ruiu, porém com novos alicerces.
Para muitos de nós é difícil vermos Deus agindo em meio a um desmoronamento geral em nossas vidas. É lógico que não estamos falando do melhor de Deus para nós, e sim de correção. O plano do Senhor é abençoar-nos, fazer o melhor para nós. Creio que o Pai prefere não ter que abalar as nossas vidas. Contudo, é devido à dureza dos nossos corações que Ele nos trata desta maneira. Não haveria abalos corretivos se não nos desviássemos da Sua vontade; eles sempre ocorrem quando algo está errado em nossa forma de agirmos. E a intensidade dos abalos sempre virá em proporção direta à nossa distorção de valores ou à nossa resistência ao Senhor e ao Seu plano. Não será maior e nem menor do que necessitamos.
O “saco furado” em nossa vida financeira é resultado da quebra da Lei das Primícias; é agirmos sem darmos a Deus a primazia. Se Deus estiver em primeiro lugar, seremos abençoados, mas, se não dermos a Ele a primazia, seremos julgados com maldição. Portanto, já é hora de mudarmos a nossa postura quanto à questão de investirmos na obra do Senhor. Ele honra os que O honram, mas os que O desprezam, Ele também desprezará!
Texto extraído do livro “Uma Questão de Honra”
Autor: Luciano P. Subirá. É o responsável pelo Orvalho.Com – um ministério de ensino bíblico ao Corpo de Cristo. Também é pastor da Comunidade Alcance em Curitiba/PR. Casado com Kelly, é pai de dois filhos: Israel e Lissa.