Os que vivem segundo a carne se inclinam para as coisas da carne, mas os que vivem segundo o Espírito se inclinam para as coisas do Espírito. Pois a inclinação da carne é morte, mas a do Espírito é vida e paz.”
(Romanos 8.5–6)
A vida cristã, diferente do que era a natureza do velho homem, não deve ser moldada pelas inclinações do coração. Cada decisão, pensamento e desejo revela para qual direção estamos pendendo: para as coisas da carne ou para as do Espírito. Paulo afirma que essa escolha define o resultado da nossa caminhada: a inclinação da carne é morte; a do Espírito, vida e paz. É impossível experimentar uma transformação verdadeira sem compreender essa realidade.
Sob a lei, o homem não podia ser aperfeiçoado, porque lhe faltava a natureza divina e o poder de obedecer. Em Cristo, recebemos uma nova natureza e fomos capacitados a viver de modo diferente, mas essa transformação não acontece automaticamente. Ainda existe uma guerra entre a velha e a nova natureza, e cabe a nós decidir para qual lado vamos nos inclinar.
A força que domina a carne
Desde o início da história humana, Deus advertiu sobre o perigo da inclinação errada. A Caim, o Senhor disse: “O pecado está à porta, à sua espera; o desejo dele será contra você, mas é necessário que você o domine” (Gênesis 4.7). O pecado se manifesta primeiro como desejo, e é por meio dele que o coração se inclina. Tiago explica: “A cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte” (Tiago 1.15).
A inclinação, portanto, é o ponto de partida de todo desvio. Paulo também alertou: “A inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeita à lei de Deus, nem mesmo pode estar” (Romanos 8.7). Isso significa que a carne jamais se submeterá voluntariamente; ela precisa ser dominada. Essa sujeição não é fruto de auto sacrifício nem de autoflagelo, mas de uma decisão constante de mortificar a velha natureza:
“façam morrer tudo o que pertence à natureza terrena” (Colossenses 3.5).
Contudo, muitos tentam dominar a carne pela força da própria carne, e isso é impossível. O domínio próprio verdadeiro nasce da nova natureza e do fortalecimento do homem interior. Paulo orou: “Para que, segundo a riqueza da sua glória, ele vos conceda que sejais fortalecidos com poder, mediante o seu Espírito no homem interior” (Efésios 3.16). É nesse fortalecimento que o Espírito Santo nos capacita a dizer não ao pecado e sim à vontade de Deus.
Negar a carne é apenas metade do processo. É preciso também se inclinar para o Espírito. Essa é uma ação dupla: recusar o que nos afasta de Deus e escolher o que nos aproxima dele. Essa escolha diária é sustentada pela graça, o poder divino que opera em nós, mas que exige nossa resposta.
O caminho do fortalecimento interior
O fortalecimento do espírito não é algo automático. É resultado da cooperação entre a graça divina e a responsabilidade humana. Existem práticas espirituais que nos ajudam a acessar os recursos da graça: oração, leitura da Palavra, jejum e adoração. John Wesley as chamava de “meios da graça”, porque são caminhos pelos quais Deus nos fortalece. Essas disciplinas não são obras de mérito, mas atitudes que expressam fé e mantêm o coração sensível ao Espírito.
Ao cultivar uma vida espiritual ativa, somos fortalecidos para resistir à carne e permanecer inclinados ao Espírito. Paulo resume esse processo em Romanos 6.12–14:
“Não deixem que o pecado reine em seu corpo mortal, de maneira que obedeçam aos seus desejos. […] Porque o pecado não terá domínio sobre vocês, pois vocês não estão debaixo da lei, mas debaixo da graça.”
A inclinação correta não é resultado de força de vontade, mas de consciência espiritual desperta. Quem mantém viva a lembrança do que Cristo fez, conserva o coração sensível à voz do Espírito, permanece inclinado para a vida. A maturidade e o fortalecimento interior nos conduzem a esse lugar de constância.
A cada dia, somos chamados a escolher: ceder à carne ou andar no Espírito. Essa decisão determina o curso da vida e a profundidade da nossa comunhão com Deus. O poder da inclinação está em definir quem governa nossos passos e, quando o Espírito é quem inclina o coração, o resultado é sempre vida e paz.
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