Super-herói espiritual não existe, pois todos nos cansamos; temos limites. A razão pela qual o Senhor instituiu o descanso é porque precisamos dele. Embora inicialmente apresentemos relativa dificuldade para aceitar, o tempo e a experiência nos mostra que este é um fato: a cada um de nós sobrevirá aquele momento de desgaste, principalmente após as batalhas e ministrações a outras pessoas. Mesmo quando ministramos no poder do Espírito, nos cansamos. Não sentimos isso enquanto estamos sob a unção, mas quando ela se vai, e aí que percebemos quão limitado somos.
A Bíblia fala acerca de como Elias, depois de sair de um dos mais espetaculares cenários de avivamento, quando viu descer fogo do céu sobre o sacrifício e a nação cair de joelhos gritando “Só o Senhor é Deus”, fugiu de Jezabel e escondeu-se numa caverna, pediu para si a morte. O que houve com o profeta? Ele vivenciou o que classifico como “ressaca ministerial”.
Embora a primeira ideia sobre ressaca seja de alguém que está sofrendo do abuso do álcool, há outros conceitos englobados nessa palavra. Podemos falar da “ressaca muscular” de quem abusou dos exercícios no dia anterior ou do mar agitado como consequência do mau tempo. Em todos esses exemplos encontramos uma consequência de algum tipo de exagero ocorrido. Há um exemplo nas Escrituras que se enquadra perfeitamente nesse contexto do desgaste da batalha, da ressaca ministerial. É o caso de Sansão. Observe o que ocorreu com ele numa ocasião em que experimentou uma poderosa manifestação de Deus:
“Chegando ele a Leí, os filisteus lhe saíram ao encontro, jubilando; porém o Espírito do Senhor de tal maneira se apossou dele, que as cordas que tinha nos braços se tornaram como fios de linho queimados, e as suas amarraduras se desfizeram das suas mãos. Achou uma queixada de jumento, ainda fresca, à mão, e tomou-a, e feriu com ela mil homens. E disse: Com uma queixada de jumento um montão, outro montão; com uma queixada de jumento feri mil homens. Tendo ele acabado de falar, lançou da sua mão a queixada. Chamou-se aquele lugar Ramate-Leí.”
É importante lembrar que Sansão não possuía nenhuma força descomunal, a não ser quando o Espírito de Deus se apossava dele; salvo essas ocasiões, era um homem normal. Depois de ter sido usado poderosamente pelo Senhor, a unção se retirou dele, mas deixou um saldo de grande desgaste. Ou seja, aquela força que havia se manifestado não era dele, mas o corpo sim, portanto quando a força se foi, restou o cansaço.
Seria muita ingenuidade de nossa parte supor que jamais poderíamos experimentar o mesmo. Muitas vezes depois de vencemos inimigo externo descobrimos que não podemos lidar com a nossa própria limitação! Foi o que ocorreu com o juiz israelita:
"Sentindo grande sede, clamou ao Senhor e disse: Por intermédio do teu servo deste esta grande salvação; morrerei eu, agora, de sede e cairei nas mãos destes incircuncisos? Então, o Senhor fendeu a cavidade que estava em Leí, e dela saiu água; tendo Sansão bebido, recobrou alento e reviveu; daí chamar-se aquele lugar En-Hacoré até ao dia de hoje."
O corpo de Sansão quase sucumbiu, pois o esforço de matar (e empilhar e contar) aqueles mil homens foi muito grande. A Bíblia diz que o desgaste foi tamanho que ele quase morreu de sede. Veja bem, podemos extrair uma outra lição do ocorrido. Existem dois níveis de unção: a externa e a interna.
A unção externa é aquela em que o Espírito Santo vem sobre nós; esse tipo de unção nos leva a fazer alguma coisa para Deus. Jesus disse “o Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para…”, E então segue-se uma lista das coisas que essa unção sobre ele o levaria a fazer para Deus (Lc 4.18). A unção interna é aquela em que o Espírito Santo flui em nós, do lado de dentro; esse tipo de unção está relacionado com o que Deus faz por nós. O apóstolo João escreveu em sua epístola acerca da unção que recebemos do Espírito Santo que permanece em nós e nos ensina todas as coisas. (1 Jo 2:27).
Em suma: com um tipo de unção fazemos algo para Deus; com outro, Deus é que faz para nós. Sansão descobriu que experimentar somente a unção externa e vencer o inimigo não é suficiente, pois para vencer o desgaste resultante da batalha (a sede que quase o matou), é preciso uma fonte; e isso fala da unção interior que refrigera.
É preciso vida de oração e isso não é algo opcional. É uma questão de sobrevivência! Então por que a maioria de nós não parece levar a sério a vida de oração?
Apenas saber que orar é importante, necessário, fundamental, não resolverá o problema gerado por nossa omissão. Acredito que isso só tem um remédio: a paixão pelo Senhor. A fascinação por Sua presença, a realização que encontramos somente nos encontros com Ele, deveria ser o nosso combustível para correr à fonte todos os dias.
Não estou falando de gastar menos tempo trabalhando para ver se conseguimos ter mais tempo para orar. A vida de oração além de nos poupar do desgaste da batalha, aumenta a nossa produtividade. Estou falando de fazer mais para Deus em menos tempo que o normal, depois de garantir nosso tempo com Ele. George Müller, homem de grandes realizações, declarou: “um crente pode fazer mais em quatro horas depois de empregar uma em orar, do que em cinco horas sem orar”
TEXTO
Autor: Luciano P. Subirá. É o responsável pelo Orvalho.Com – um ministério de ensino bíblico ao Corpo de Cristo. Também é pastor da Comunidade Alcance em Curitiba/PR. Casado com Kelly, é pai de dois filhos: Israel e Lissa.