O estilo de vida de um líder deve ser padrão aos demais. Essa instrução foi claramente transmitida por Paulo a Timóteo e a Tito, líderes que havia levantado para o cuidado das igrejas:
“Ninguém despreze a tua mocidade; pelo contrário, torna-te padrão dos fiéis, na palavra, no procedimento, no amor, na fé, na pureza.”
“Torna-te, pessoalmente, padrão de boas obras. No ensino, mostra integridade, reverência, linguagem sadia e irrepreensível, para que o adversário seja envergonhado, não tendo indignidade nenhuma que dizer a nosso respeito.” Tito 2.7,8
Paulo ensinou bastante sobre o exemplo. Em cinco de suas epístolas há um apelo explícito para que o imitassem:
“Admoesto-vos, portanto, a que sejais meus imitadores.”
“Sede qual eu sou; pois também eu sou como vós. Irmãos, assim vos suplico…” Gálatas 4.12
“Irmãos, sede imitadores meus e observai os que andam segundo o modelo que tendes em nós.” Filipenses 3.17
“Com efeito, vos tornastes imitadores nossos e do Senhor, tendo recebido a palavra, posto que em meio de muita tribulação, com alegria do Espírito Santo, de sorte que vos tornastes o modelo para todos os crentes na Macedônia e na Acaia.” I Tessalonicenses 1.6,7
“Pois vós mesmos estais cientes do modo por que vos convém imitar-nos, visto que nunca nos portamos desordenadamente entre vós, nem jamais comemos pão à custa de outrem; pelo contrário, em labor e fadiga, de noite e de dia, trabalhamos, a fim de não sermos pesados a nenhum de vós; não porque não tivéssemos esse direito, mas por termos em vista oferecer-vos exemplo em nós mesmos, para nos imitardes.” 2 Tessalonicenses 3.7-9
Na epístola aos Hebreus, somos encorajados a imitar a fé de nossos guias:
“Lembrai-vos dos vossos guias, os quais vos pregaram a palavra de Deus e, considerando atentamente o fim da sua vida, imitai a fé que tiveram”
Diante de tantos (e tão claros) textos bíblicos, não há como seguir em outra direção. Os líderes devem ser referenciais de conduta. O próprio Jesus falou sobre o fato de Ele ser exemplo tanto no procedimento como no serviço.
“Depois de lhes ter lavado os pés, tomou as vestes e, voltando à mesa, perguntou-lhes: Compreendeis o que vos fiz? Vós me chamais o Mestre e o Senhor e dizeis bem: porque eu o sou. Ora, se eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também”
Essa é a doutrina bíblica a ser seguida e praticada!
Vamos falar de Clemente. Bispo de Roma no tempo do Imperador Domiciano, ele escreveu no final do primeiro século, uma carta à igreja de Corinto. Considerada um dos escritos cristãos mais antigos depois das escrituras neotestamentárias, foi tão apreciada pela igreja antiga que, por algum tempo, cristãos do Egito e da Síria queriam que fosse incluída no cânon do Novo Testamento. Nela, Clemente exorta os irmãos por terem se rebelado e destituído os presbíteros da igreja, além de chamá-los a arrependimento e concerto. No verso 3 do capítulo 63, menciona a ida de mediadores para resolver aquela situação:
“Também estamos lhes enviando pessoas discretas e dignas de confiança que, desde a juventude até a velhice, têm levado uma vida irrepreensível em nosso meio. Elas serão as testemunhas intermediárias entre nós.”
Observe a relação entre as expressões “dignas de confiança” e “vida irrepreensível”. Acrescente outro importante detalhe: “desde a juventude até a velhice”. Uma conduta exemplar não era somente apreciada, mas também apresentada como credencial de reconhecimento.
Portanto pergunto: como chegamos ao ponto de permitir que carisma, dons e habilidades de um líder se tornassem qualidades suficientes, suprimindo o peso e a importância de uma vida de exemplo? Precisamos resgatar não só o comportamento como também a doutrina bíblica de uma conduta exemplar por parte dos ministros.
QUANDO O EXEMPLO É COMPROMETIDO
E quando não há exemplo?
O Senhor Jesus enfatizou a contradição daqueles que não são exemplo a ser seguido. Ele disse que, nesses casos, o ensino deve ser observado, embora a conduta do ensinador, não. Observe:
“Então, falou Jesus às multidões e aos seus discípulos: Na cadeira de Moisés, se assentaram os escribas e os fariseus. Fazei e guardai, pois, tudo quanto eles vos disserem, porém não os imiteis nas suas obras porque dizem e não fazem”
Se o pregador deixa de praticar aquilo que prega, a Palavra de Deus não é invalidada; contudo o ministro é desqualificado como exemplo. Ou seja, alguém não pode estar no púlpito – ou qualquer outra esfera do ministério – apenas porque possui conhecimento ou habilidade. A autoridade é estabelecida por meio do exemplo.
O apóstolo Paulo, pelo Espírito Santo, também falou acerca disso:
“Mas esmurro o meu corpo e o reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a outros, não venha eu mesmo a ser desqualificado.”
O que significa vir a ser desqualificado?
A palavra grega traduzida como “desqualificado” é adokimos e, de acordo com o Léxico de Strong, significa: “não resistindo a teste, não aprovado, desqualificado para, desaprovado, falso, espúrio, condenado”. O teste em questão é o exemplo que deve ser preservado embora nem sempre o seja.
Um pregador que não vive aquilo que prega perde as qualificações para o exercício do ministério. Ele não perde o conhecimento da Palavra de Deus que o levou a pregar, mas sim a autoridade para falar sobre aquilo que conhece, porém não está praticando.
Muitos se tornam verdadeiros profissionais no exercício do ministério. Seja pregando, ensinando, conduzindo a adoração, ou mesmo liderando e aconselhando. São habilidosos no que fazem, mas sua conduta não reflete Cristo. Substituem a responsabilidade de ser pelo fazer. Também esquecem que, além da própria desqualificação, ainda servem de tropeço a outros e atrapalham o progresso do Reino de Deus.
Vamos tentar entender o que desqualificaria a Paulo – e qualquer outro ministro – no texto de 1 Coríntios, citado há pouco. Se o pregador caiu em pecado, não perdeu o conhecimento bíblico que possuía, tampouco a habilidade de comunicação. Ele perdeu o exemplo! Se um ministro de adoração caiu em pecado, ele não perdeu a voz, tampouco a afinação. Ele perdeu o exemplo!
É inevitável, numa época em que a conduta deixou de ser padrão para o ministério e a habilidade passou a ser requisito principal, que seja valorizado o fazer em detrimento do ser.
Infelizmente, por falta de temor e do devido preparo (de caráter), muito mal exemplo tem sido dado. Se, por um lado, o líder ainda é humano e imperfeito, por outro, carrega a responsabilidade de ser exemplo, viver uma vida coerente com aquilo que prega. Tal dualidade precisa ser encarada, simplesmente porque é bíblica e de proporções catastróficas quando ignorada. Penso que essa seja a provável razão pela qual Charles Spurgeon dizia que um pastor infiel é o maior agente de Satanás dentro da igreja.
Quando o apóstolo Paulo escreve a Timóteo, enfatiza que, para estar no ministério, não basta anseio, é necessário apresentar qualificações. Somando tudo que o apóstolo aponta como requisito a bispos e diáconos, temos uma lista de 16 características. (1 Timóteo 3:1-13). O interessante é que, dentre elas, só uma envolve habilidade (“apto para ensinar”), todas as outras são traços de caráter.
Contudo a maioria dos pastores que já questionei a esse respeito nunca teve uma aula sobre caráter no seminário ou escola ministerial. O preparo limitava-se exclusivamente a torná-los aptos a ensinar
Isso aponta para uma urgente necessidade de reforma no ensino e na estrutura de formação de líderes.
Texto extraído do livro “O Impacto da Santidade”
Autor: Luciano P. Subirá. É o responsável pelo Orvalho.Com – um ministério de ensino bíblico ao Corpo de Cristo. Também é pastor da Comunidade Alcance em Curitiba/PR. Casado com Kelly, é pai de dois filhos: Israel e Lissa.