Os pais podem ajudar os filhos a alcançar maturidade mais depressa, ou deixá-los acomodados e, consequentemente, tardar o processo. Aliás, penso que a nova geração vive um grande retrocesso. Como pastor há 25 anos, já aconselhei muita gente. Um dos maiores problemas nos casamentos da atualidade é o baixo nível de maturidade emocional dos cônjuges. Infelizmente, há um expressivo número de adultos que se comportam como verdadeiras crianças mimadas.
Há uma mudança de mentalidade que a nova geração vem desenvolvendo em relação à família. Recentemente, perguntei a uma pessoa muito querida se ela planejava ter mais filhos – já tinha um. A resposta foi imediata e segura: “De jeito nenhum!”. Impressionado e curioso, questionei a razão do não. Aquele pai, de pronto, rebateu: “Porque é caro demais ter um filho”.
O que essa conversa revela? Um pai mesquinho, que não quer gastar dinheiro com os filhos? Claro que não! É justamente o oposto. A conversa aponta para um pai que, por querer dar o melhor aos seus filhos, entende qual é o seu limite orçamentário e não segue aumentando a quantidade de filhos para não baixar o padrão do que ele deseja oferecer. E isso possui um lado louvável. Contudo, também destaca algo que me preocupa. Trata-se de uma nova mentalidade e um novo modelo de criação familiar que se distancia do modelo bíblico.
No padrão apresentado nas Escrituras, o aumento dos filhos era visto como algo bom e possuía uma razão. Observe:
"Herança do Senhor são os filhos; o fruto do ventre, seu galardão. Como flechas na mão do guerreiro, assim os filhos da mocidade. Feliz o homem que enche deles a sua aljava; não será envergonhado, quando pleitear com os inimigos à porta."
Primeiro, a Palavra de Deus compara os filhos a flechas. Depois, declara: Feliz o homem que enche deles (os filhos – flechas) a sua aljava . Qual era o motivo para tal felicidade? A razão é que, como os filhos tornavam a família maior, eles ajudavam o pai a enfrentar os inimigos à porta!
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Porém, hoje, qual é a razão da hesitação dos pais em terem mais filhos? É a preocupação com os custos. O que isso revela? Que os pais modernos já não pensam no que os filhos podem fazer pela família: eles estão preocupados somente com o que a família tem de fazer pelos filhos.
Antigamente, ninguém deixava de ter filhos pensando no quanto isso custava. A mentalidade, em especial quando se tirava o sustento da lavoura, sempre foi o contrário. Quanto mais filhos alguém gerava, mais mão de obra para produzir mantimento havia em casa. Tal mudança de mentalidade produz também uma alteração na criação.
Os pais da atualidade não criam filhos para ajudar a família, e sim para sugá-la, ainda que essa visão não fique tão explícita. Dessa maneira, fortalecem, inconscientemente, o egoísmo e poupam-os de processos que amadurecem, os quais foram testados ao longo da história – e demonstraram funcionar muito bem – , mas são descartados em nossos dias.
Os filhos têm cada vez menos responsabilidades e cada vez mais privilégios. Os direitos são bem maiores e abundantes que os deveres. Qual o resultado? Uma geração imatura que se sacrifica menos pela sua família e exige constantemente seus direitos. Um dia desses, alguém reclamou comigo: “Esta nova geração está cada vez mais mimada!” Repliquei na hora: “E de quem é a culpa? Quem foi que a mimou?” A pessoa permaneceu em silêncio.
O fato é que pais reclamam dos filhos que eles mesmo desvirtuaram. Por isso, precisamos repensar o modelo de criação e a mentalidade que estamos promovendo. Não me refiro a algo tão distante na história como os textos bíblicos citados. Até a geração passada, as coisas ainda seguiam nesse ritmo.
Permita-me dar mais um exemplo. Meus dois irmãos, o mais velho e o mais novo, começaram a trabalhar aos 12 anos de idade . Eles empacotavam compras em um supermercado e carregavam muitas caixas de produtos que precisavam ser repostos nas prateleiras. Tentei evitar essa tarefa e, até meus 14 anos, eu me virava fazendo meus negócios informais. Às vezes, chegava a ganhar mais dinheiro que eles. Sem contar que tinha mais tempo livre para divertir-me do que meus irmãos. Eu me gabava da minha liberdade e da minha “alma empreendedora”.
Isso durou até que, um dia, entrei em casa e vi meu pai conversando com um amigo da família, Orlando Furlan. Cumprimentei-o rapidamente e afastei-me quando meu pai me chamou de volta e disse:
– Cumprimente direito seu novo chefe.
– Meu novo o quêêê? – perguntei.
– Seu novo chefe. Acabei de arrumar-lhe um emprego de office boy, e você começa amanhã cedo – disse meu pai.
– Vou ganhar quanto? – questionei.
– Não interessa quanto você vai ganhar. O assunto já está decidido – respondeu meu pai.
– Pai, você sabe que eu ganho mais dinheiro com meus negócios informais do que ganharei nesse tipo de emprego – retruquei.
A resposta dele foi uma verdadeira lição para mim:
– Não se trata apenas de dinheiro. Você tem de aprender a ter responsabilidades, a cumprir horários e a saber responder a um chefe.
Em outras palavras, ele estava dizendo: “Você tem de aprender a ser homem!”.
Então, o jogo ficou mais duro.
– A partir de hoje, você não ficará mais com todo o dinheiro que ganha. Vai dar o dízimo, tirar apenas uma pequena parte para você e entregar o restante para ajudar nas despesas de casa – ressaltou meu pai.
– Mas pai… você não precisa do meu dinheiro! – reclamei.
– Não preciso, mas você precisa aprender a contribuir em casa – finalizou meu pai.
O que ele estava tentando ensinar-me? Ele ensinou me que, em qualquer família, os filhos não devem apenas ser servidos em casa, mas também devem servir; que os filhos não devem ser as “sanguessugas” que estão surgindo nesta nova geração; e que devem ser treinados para contribuir em casa, servir à família e não ser egoístas.
Porém, com o modelo atual de criação que os poupa de tudo – de tarefas domésticas a responsabilidades maiores, criamos um problema maior do que podemos mensurar, tanto para a funcionalidade das famílias que esses filhos formarão, como para suas vidas espirituais.
A consequência da postura atual dos pais é nada menos que filhos mimados que não entendem, nada aceitam, tampouco desfrutam do resultado de processos necessários à maturidade. Deus, como Pai – e modelo de paternidade a ser seguido -, não nos poupa desses processos!
Autor: Luciano P. Subirá. É o responsável pelo Orvalho.Com – um ministério de ensino bíblico ao Corpo de Cristo. Também é pastor da Comunidade Alcance em Curitiba/PR. Casado com Kelly, é pai de dois filhos: Israel e Lissa.