Lembro-me de uma experiência inusitada, no ano de 1995, e que me serviu para esclarecer bastante esse princípio que quero abordar aqui. No fim de um culto abençoado, o Senhor começou a se mover entre nós e eu estava muito à vontade para fluir no Espírito. Recebi de Deus algumas palavras proféticas e as comuniquei às pessoas a quem eram dirigidas. Não o fiz de púlpito; preferi descer e ir até cada uma delas e lhes falar algo da parte do Senhor.
Quando voltei à plataforma, Deus me deu uma visão interessante com uma irmã que também tinha ido à frente, durante o apelo. Eu a vi com uma trombeta de ouro em sua mão direita para tocar, mas no momento em que o fazia, refletindo insegurança, ela punha a mão esquerda na frente do instrumento, reprimindo assim seu som.
Enquanto eu refletia, tentando entender o significado do que Deus me mostrava, pois entendo que muitas visões são simbólicas, o Espírito trouxe uma clara impressão no meu íntimo: “Ela tem uma mensagem da minha parte, mas está insegura e com receio de falar. Vá a ela e diga que fale a minha palavra!”
Prontamente fui até a irmã e lhe disse o que o Senhor havia me dito. Encorajei-a a falar o que havia recebido. Ela, muito impressionada, olhou diretamente nos meus olhos e falou: “É verdade, pastor, e esta irmã ao meu lado é minha testemunha de que Deus me deu uma palavra. Eu estava receosa de entregar, mas agora sei que realmente devo fazê-lo. E a mensagem que o Senhor me deu é para você!”
Eu quase caí de costas! Ela, com muito amor e carinho, disse-me que seu receio se dava ao fato de não se ver no direito ou posição de tentar me instruir, pois eu tinha autoridade sobre a vida dela, e não o contrário. Mas ela me via errando em relação a uma Palavra de Deus que eu havia recebido por ocasião do meu estabelecimento no ministério, e, de fato, Deus a usou para que eu consertasse algo em minha vida!
Depois disso comecei a pensar comigo mesmo e a achar até divertido o ocorrido. Deus me pegou de jeito! Eu não tinha como não ouvir aquela irmã depois da palavra que lhe dei! Então fiquei pensando na burocracia toda da coisa. Dizia para Deus: “O Senhor não podia ter falado direto comigo sobre o assunto? Por que me falar que outra pessoa tinha uma mensagem, para no fim a mensagem voltar para mim mesmo?” E em meio a este questionamento, o Senhor me disse que queria me ensinar a ouvir outros, a me deixar ser corrigido quando necessário… e jamais me esqueci disso!
Veja algo tremendo que a Palavra de Deus declara acerca da correção:
“Fira-me o justo, será isto uma benignidade; e repreenda-me, isso será como óleo sobre a minha cabeça; não recuse a minha cabeça…”
Deus não quer ver seu povo doente e nem sofrendo, mas há uma espécie de ferida que produz cura, e essa deve ser praticada pelos cristãos. Ao dizer; “fira-me o justo”, Davi não falava a respeito de uma ferida física, e sim de uma emocional. Referia-se ao desconforto (e até mesmo dor) que é produzido pela repreensão. E, apesar de se referir a algo aparentemente ruim, ele menciona as bênçãos provenientes desse ato: “e me será por benignidade;… será como óleo sobre a minha cabeça”.
Todos precisamos ser ministrados através de outras pessoas, e isto envolve não apenas ouvir palavras amáveis de encorajamento, mas também, quando necessário, palavras firmes de repreensão e correção. Moisés foi um homem que ouvia a Deus tão claramente, que tinha revelações poderosas sobre grandes e pequenos detalhes concernentes à condução do povo de Israel. Entretanto, precisou ser corrigido por seu sogro, e aprendeu dele a importância de trabalhar com grupos de liderança (Êx 18).
Isto me fez questionar várias vezes: se Deus falava sobre tanta coisa diretamente com Moisés, por que não falou acerca disso? Na verdade, falou; só não o fez diretamente. Deus usou Jetro para que Moisés soubesse que, por maior que fosse sua intimidade com Ele, por maior que fosse sua sensibilidade para ouvir a voz divina, ainda assim ele necessitava de pessoas que pudessem corrigi-lo e instruí-lo, pois ninguém é perfeito ou completo. Todos precisamos de pessoas que possam nos ministrar.
A Bíblia diz que aquele que se isola insurge-se contra a verdadeira sabedoria (Pv 18.1). Ninguém pode viver sozinho recusando-se a ouvir outros.
FERIDAS DE AMOR
A Bíblia fala mais sobre esse tipo de “ferida” que o justo deve praticar em relação àqueles que ama:
“Melhor é a repreensão aberta do que o amor encoberto. Fiéis são as feridas dum amigo, mas os beijos dum inimigo são enganosos.”
Muitas pessoas agem com falsidade, preferido a dissimulação e o fingimento à franqueza e sinceridade da repreensão. Mas as Escrituras Sagradas declaram que a repreensão aberta (fruto de amor sincero de uma pessoa franca) é melhor que o amor encoberto (que não se manifesta por nunca ter coragem de falar a verdade).
Martinho Lutero, o grande reformador, declarou: “Preferiria que mestres verdadeiros e fiéis me repreendessem e me condenassem, e até mesmo reprovassem meus caminhos, a que hipócritas me bajulassem e me aplaudissem como santo”.
Precisamos aprender a falar a verdade em amor. Adular não leva a lugar algum e impede o crescimento espiritual de todos.
“O que repreende a um homem achará depois mais favor do que aquele que lisonjeia com a língua”.
A verdade deve ser dita. Pessoas que amam devem corrigir e repreender os seus amados. As feridas de amor (provocadas pela repreensão) são mais valiosas que os beijos da falsidade (do fingimento de quem não quer contrariar ninguém).
Os apóstolos Paulo e Pedro viveram juntos uma experiência forte neste sentido. Paulo repreendeu Pedro diante de todos por estar agindo de modo errado quanto ao jeito de se relacionar com os crentes gentios.
“Quando, porém, Cefas veio a Antioquia, resisti-lhe na cara, porque era repreensível. Pois antes de chegarem alguns da parte de Tiago, ele comia com os gentios; mas quando eles chegaram, se foi retirando e se apartava deles, temendo os que eram da circuncisão. E os outros judeus também dissimularam com ele, de modo que até Barnabé se deixou levar pela sua dissimulação. Mas, quando vi que não andavam retamente conforme a verdade do evangelho, disse a Cefas perante todos: Se tu, sendo judeu, vives como os gentios, e não como os judeus, como é que obrigas os gentios a viverem como judeus?”
Temos algo forte descrito neste texto. Paulo referiu-se a Pedro como uma das colunas da Igreja (Gl 2.9). É evidente que, como um dos doze apóstolos do Cordeiro, Simão Pedro estava numa posição ministerial mais elevada que Paulo, que mesmo sendo um apóstolo, não chegou a ser parte dos doze – que têm os seus nomes escritos nos fundamentos da Cidade Santa (Ap 21.14). Porém, como disse no início deste estudo, alguém de posição inferior de autoridade pode, baseado na autoridade da Palavra de Deus, corrigir outro de maior autoridade.
O apóstolo Paulo orientou seu discípulo Timóteo:
“Não repreenda asperamente ao homem idoso, mas exorte-o como se ele fosse seu pai”
Se fosse errado um filho corrigir o seu próprio pai, Paulo nunca poderia ter dito isto. Mas se um filho (já com maturidade) precisar fazer isso com seu pai, deve fazê-lo com tanto carinho e honra, que essa correção se torne o modelo de respeito a ser manifestado a qualquer pessoa idosa que tenhamos que corrigir.
QUEM PODE CORRIGIR
Repreender não é apenas dever do pastor (no púlpito ou em aconselhamentos e disciplinas). Cada cristão tem a incumbência de fazê-lo. Jesus declarou:
“…se teu irmão pecar contra ti, repreende-o …”
O texto não diz “se teu discípulo” ou “se teu liderado” ou “se teu filho na fé” pecar; o texto sagrado diz: “se teu irmão pecar contra ti”. Há momentos em que os líderes terão que se posicionar com autoridade para repreender, pois Paulo instrui a Tito:
“Exorta e repreende com autoridade”
Porém, não quer dizer que essa ação de repreensão deva se limitar somente aos líderes. Todo crente deve aprender a corrigir seu irmão(ã) quando este falhar.
“Tende cuidado, irmãos, jamais aconteça haver em qualquer de vós perverso coração de incredulidade que vos afaste do Deus vivo; pelo contrário, exortai-vos mutuamente a cada dia, durante o tempo que se chama hoje, a fim de que ninguém se endureça pelo engano do pecado.”
Quando encorajamos os irmãos a praticarem o princípio de repreensão e correção mútua, corremos o risco de sair de um extremo (onde ninguém corrige) e ir a outro (onde qualquer um acha que pode corrigir). Portanto, penso que devemos ter certa cautela e ensinar acerca desses princípios.
Precisamos aprender a importância da interação e dos relacionamentos no Corpo de Cristo. Francisco de Assis declarou: “Ninguém é suficientemente perfeito que não possa aprender com o outro, e ninguém é totalmente destituído de valores que não possa ensinar algo ao seu irmão.”
Concordo com o fato de que devemos ser ensináveis e aprendermos uns com os outros. Porém, quando o assunto é correção (e penso que isto vai além do aprendizado mútuo), não é qualquer um que, dentro da igreja, pode chegar a repreender outro; é necessário ter certa maturidade para isso. Há alguns critérios bíblicos para tal, e entre eles Paulo destaca dois importantes: bondade e conhecimento.
“Eu, de minha parte, irmãos meus, estou persuadido a vosso respeito, que vós já estais cheios de bondade, cheios de todo o conhecimento e capazes, vós mesmos, de admoestar-vos uns aos outros.”
Uma pessoa cheia de bondade é bem diferente de uma cheia da amargura. A amarga não corrige; briga com todo mundo! Mas repreender é algo que se faz com um coração cheio de bondade. Portanto, somente um crente em tal condição é capaz de ferir o justo em seu benefício. Caso contrário, será prejuízo. A bondade focará o alvo correto: o erro em si, e não a pessoa que errou.
Também é necessário conhecimento bíblico, experiência de vida cristã. Uma repreensão que é sempre seguida de conselho mostra não apenas o erro em si, mas aponta a forma correta de comportamento. Não deve ser fundada meramente na opinião de alguém, mas na Palavra do Senhor.
O apóstolo Paulo deixa claro que não é qualquer um que tem a capacidade de se exercitar nessa prática, mas que os que estão cheios de bondade e conhecimento já se encontram prontos para isso.
A FORMA DE FAZÊ-LO
Vimos quem pode repreender a seu irmão quando este se encontra em erro, e agora quero lançar algumas bases bíblicas sobre a maneira correta de fazê-lo. Charles Spurgeon, ministro britânico conhecido como o príncipe dos pregadores, afirmou: “A repreensão não deve ser um balde de água fria para congelar o irmão, nem água fervente para queimá-lo”.
Destaquei cinco aspectos importantes que devem determinar a forma de corrigir nossos irmãos no Senhor. Vejamos o que a Palavra de Deus diz sobre isso:
1) Como a filhos amados
Quando o apóstolo Paulo corrigiu os irmãos de Corinto, demonstrou um coração paternal exemplar:
“Não escrevo estas coisas para vos envergonhar, mas para vos admoestar, como a filhos meus amados.”
Todo pai sabe como é corrigir um filho. A correção dói mais em nós do que neles! Entretanto, o amor que temos pelos filhos nos leva a corrigi-los. Não queremos infligir-lhes dor; queremos ensiná-los e poupá-los de dores maiores.
É por isso que não se deve corrigir um filho quando se está irado ou alterado emocionalmente. A correção deve ser uma manifestação de amor e cuidado. É isso o que aprendemos com nosso Pai Celeste, do qual as Escrituras dizem:
“Pois o Senhor disciplina a quem ama, e castiga todo aquele a quem aceita como filho”
Portanto, a correção aos nossos irmãos em Cristo deve ser feita com o mesmo coração amoroso com que corrigimos os próprios filhos.
2) Em espírito de mansidão
A correção não deve manifestar um tom de condenação. Deve ser feita em espírito de mansidão. Isto significa que correção não é briga. Também não é condenação. É um ensino amoroso que visa a restauração de quem errou. Santo Agostinho declarou:
“Convém matar o erro, mas salvar os que estão errados”.
“Irmãos, se um homem chegar a ser surpreendido em algum delito, vós que sois espirituais corrigi o tal com espírito de mansidão; e olha por ti mesmo, para que também tu não sejas tentado.”
Além do fato de que o espírito de mansidão não acusa e nem condena (o que falhou), embora reprove (a falha em si), ele também expressa humildade em vez de altivez. O apóstolo disse que devemos cuidar para que, na área em que corrigimos outros, não venhamos também a ser tentados. Em outras palavras, pode acontecer com qualquer um!
Alguns irmãos corrigem outros como se eles mesmos não estivessem sujeitos a queda e falha. Isto é errado e contrário às Escrituras! Paulo disse que quem está em pé cuide para que não caia (1 Co 10.13). Também declarou que esmurrava seu próprio corpo para que, depois de pregar, ele mesmo não viesse a ser desqualificado (1 Co 9.27). Mesmo ao corrigir, o apóstolo parecia sugerir a ideia de “pode acontecer comigo e com qualquer um”, e “eu entendo e vou lhe ajudar”. Se nós tivermos esse mesmo coração, certamente teremos resultados bem melhores ao aplicar a correção.
3) Com sensibilidade para tratar cada caso
“Exortamo-vos também, irmãos, a que admoesteis os insubordinados, consoleis os desanimados, amparai os fracos e sejais longânimos para com todos.” (1 Tessalonicenses 5.14)
De acordo com a instrução bíblica, cada tipo de deficiência merece um trato específico. O insubordinado deve ser admoestado; o desanimado deve ser consolado; os fracos devem ser amparados e TODOS merecem longanimidade.
Não podemos inverter a ordem. Há igrejas em que os insubordinados são amparados e consolados e os fracos e desanimados são admoestados! Quando isso acontece, o erro de um não é corrigido e a necessidade de apoio de outros é pisoteada.
Um texto bíblico que me ajudou a compreender que devemos fortalecer os fracos e desanimados, em vez de acabar de matá-los de vez, foi o seguinte:
“Não esmagará a cana quebrada, nem apagará a torcida que fumega; em verdade promulgará o direito.”
Eu nunca havia entendido a expressão “não esmagará a cana quebrada” até um dia em que eu fui à lavoura de um amigo. Entramos de caminhonete em sua plantação de trigo para que ele pudesse avaliar o estado do trigo em diferentes pontos, e eu percebi que, à medida que avançávamos, deixávamos atrás de nós um trilho, a marca dos pneus que pareciam esmagar as plantinhas indefesas. Inocentemente eu lhe perguntei se ele não estava estragando aquela parte da plantação por onde passávamos, e ele me disse que não. Ele parou para mostrar-me que, mesmo com o talo quebrado, aquele trigo se levantaria de novo, num verdadeiro processo de regeneração da natureza. Em seguida ele me mostrou outras áreas onde isso já havia acontecido. Quando a Bíblia fala sobre “cana”, ela está falando sobre o caule das plantas. Deus está dizendo que mesmo que elas se quebrem, Ele não as destruirá por causa disso, mas permitirá que elas sejam restauradas e que as suas rachaduras sejam refeitas. Quando estamos “quebrados” em alguma área de nossas vidas, o Senhor não nos esmaga por não sermos perfeitos, mas Ele permite que uma restauração ocorra. Logo, devemos ter o mesmo coração amoroso e misericordioso para com aqueles que corrigimos.
A outra frase do versículo, que transmite a mesma mensagem da primeira, é: “Ele não apagará a torcida que fumega”. É uma alusão ao pavio da lâmpada que já não está mais aceso, que está se apagando. Novamente a Bíblia declara que, até mesmo quando não estamos em conformidade com o que Deus planejou para nós, Ele não nos destrói. O Senhor não molha a ponta dos Seus dedos com saliva para apertar o pavio que fumega, como fazemos com uma velinha de um bolo de aniversário. Não! Como diz o antigo cântico pentecostal, “Se apagar o pavio que fumega, Jesus assopra, e o fogo pega!” Aleluia! Jesus jamais apagará o nosso último pavio de esperança! Portanto, nem nós tampouco devemos fazer isso com os que erraram. O propósito da correção é a restauração, não o massacre daquele que errou.
Mas, o mais interessante é o que a Bíblia nos instrui como trato geral: ser longânimo para com todos. Não importa o erro; todos merecem paciência de nossa parte. Cada erro (a falha em si) requer um trato diferenciado na hora da correção, mas todos os que erram (as pessoas) merecem um mesmo trato: paciência. Todos já fomos crianças e imaturos um dia (tanto natural como espiritualmente), e lembrar isto nos ajuda a ter com outros a paciência que já tiveram conosco um dia.
Eu estava no trânsito um dia desses e encostei atrás de um carro de autoescola; quando comecei a incomodar-me com a lentidão com que o aprendiz de motorista dirigia, li um adesivo no vidro traseiro do carro que dizia: “Calma, eu sou você ontem”. Recordar que já dirigimos assim antes, e quão feliz nós ficávamos quando não buzinavam o tempo todo atrás de nós ajuda a ter paciência com os novatos. Façamos o mesmo na vida cristã!
4) Não como inimigo, mas como irmão
Algo que a maioria de nós precisa aprender é que confronto não é, do ponto de vista bíblico, guerra. A pessoa que errou, por pior que tenha sido o seu erro, ainda é parte da mesma família da fé a que nós pertencemos! Por isso, a Escritura declara que devemos admoestar (corrigir) essa pessoa como a um irmão; não como se fosse um inimigo:
“Todavia, não o considerais com inimigo, mas admoestai-o como irmão.”
Jesus nos orientou a advertir quem errou com um único propósito: ganhar nosso irmão (não o inimigo; o irmão).
“Se o seu irmão pecar contra você, vá e, a sós com ele, mostre-lhe o erro. Se ele o ouvir, você ganhou seu irmão.”
E se não houver resultados na repreensão inicial, Jesus nos aconselhou a tentar de novo, com testemunhas. Se ainda não houver resultado, tentar mais uma vez, diante da igreja. Somente em última instância, por não aceitar a repreensão, alguém pode chegar à mais forte expressão de disciplina na igreja: a exclusão (Mt 18.15-17). Porém, mesmo em casos de severa disciplina, somos orientados a prosseguir amando e perdoando a esses irmãos (2 Co 2.5-8).
5) Na expectativa de arrependimento
Algo que tenho aprendido muito nos últimos anos, com o pastor Abe Huber, é acreditar nas pessoas. Não digo acreditar no sentido humanista de que as pessoas sejam boas em si mesmas, mas no sentido de crer na ação de Deus em suas vidas, crer para a transformação delas. Ele me inspirou a não desistir de quem erra e a lutar por cada um que falhou e aplicar fé, muita fé, pela sua restauração.
Muitas vezes confrontamos as pessoas já esperando que elas não aceitem e planejando nossas reações em cima das possíveis ações de quem iremos corrigir. Sei por experiência própria; já fiz isto como pastor e como irmão em Cristo, como familiar e como amigo – em todos os níveis de relacionamento. Também já conversei com muita gente que fez o mesmo, em posição de liderança ou não.
Paulo instruiu seu jovem discípulo Timóteo em relação a isso:
“Ao servo do Senhor não convém brigar mas, sim, ser amável para com todos, apto para ensinar, paciente. Deve corrigir com mansidão os que se lhe opõem, na esperança de que Deus lhes conceda o arrependimento, levando-os ao conhecimento da verdade”
O texto bíblico fala sobre corrigir na esperança (ou expectativa) de que Deus conceda o arrependimento. Não é corrigir por corrigir, só para dizer que tentou. É lutar pela restauração. É aplicar fé que haverá arrependimento e mudança!
6) Correção com encorajamento
Nos primeiros anos do casamento descobri a minha limitação em relação à forma de falar na hora de criticar ou corrigir. Minha esposa tentava alertar-me para a minha abordagem errada (não só com ela, mas com todo mundo). Porém, ainda assim, eu sempre argumentava com ela e defendia a ideia de que a verdade tem que ser dita e que quem está errado tem que ser corrigido. A Kelly, por sua vez, dizia que não era contra a crítica e a correção em si, mas com a maneira como eu fazia aquilo. E repetia sempre:
“Não é o quê você fala que me aborrece, é como você fala”.
Confesso que, para mim, era muito difícil entender isto. Um dia ela me pediu:
“Quando você quiser me corrigir, bem que você poderia começar e terminar com um elogio. Ficaria bem mais fácil”.
Retruquei imediatamente que isto era psicologia barata e que eu me recusava a jogar este tipo de jogo e fazer aquilo. Porém, um tempo depois, em meu momento de oração tive uma experiência constrangedora com Deus. Enquanto orava, tive uma forte impressão em meu espírito. Uma frase muito nítida ecoava dentro de mim:
“Por que você Me acusou de usar de psicologia barata no trato com as pessoas?”
Rapidamente respondi que não tinha feito aquilo com o Senhor. Mas a impressão continuava “falando” dentro de mim:
“Você disse à sua esposa que elogiar antes e depois de corrigir é usar de psicologia barata. E, se você examinar as sete cartas às igrejas da Ásia no livro de Apocalipse, vai descobrir que Eu agi exatamente desta forma. Logo, você me acusou de usar de psicologia barata!”
Fiquei chocado. Pedi perdão a Deus. Fui ler as cartas do Apocalipse e constatei a forma como Jesus se dirigiu às igrejas da Ásia: elogio primeiro, correção depois! Por exemplo, veja a carta dirigida à Igreja de Éfeso:
- 1) ELOGIO:
“Conheço as tuas obras, e o teu trabalho, e a tua perseverança; sei que não podes suportar os maus, e que puseste à prova os que se dizem apóstolos e não o são, e os achaste mentirosos; e tens perseverança e por amor do meu nome sofreste, e não desfaleceste”
- 2) CORREÇÃO:
“Tenho, porém, contra ti que deixaste o teu primeiro amor. Lembra-te, pois, donde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras; e se não, brevemente virei a ti, e removerei do seu lugar o teu candeeiro, se não te arrependeres”
- 3) NOVO ELOGIO:
“Tens, porém, isto, que aborreces as obras dos nicolaítas, as quais eu também aborreço”
Ouvi o pastor Abe Huber chamar este tipo de correção de “sanduíche”, dizendo que assim como o hambúrguer fica entre os dois pedaços de pão, assim também a correção deveria ser “servida” entre elogio e encorajamento. Encontramos o mesmo princípio do elogio ou encorajamento antes da correção sendo aplicado por Jesus nas demais cartas às igrejas da Ásia. Precisamos aprender a usar nossas palavras para produzir encorajamento.
NOSSA ATITUDE
A Bíblia compara o ato de repreender ao de ferir, porque é exatamente isto que ele causa em nossa alma: dor. Nossa natureza humana é egocêntrica, autosuficiente, orgulhosa. Se não nos deixarmos ser tratados por Deus, não teremos um coração ensinável.
Meu propósito não é tanto o de ensinar aos crentes como corrigirem uns aos outros, como o é de ensiná-los a aceitar a correção! Como pastor, estou constantemente tendo que exercitar a prática da admoestação, e vejo como é difícil (mesmo quando alguém reconhece seu erro) uma pessoa “engolir” aquele momento. Agostinho de Hipona disse:
“Você não teria medo de ser reprovado se não amasse a lisonja”.
Olho para minha própria vida e para os momentos em que eu mesmo tenho sido repreendido, e reconheço: não é fácil. Nosso íntimo reage. Mas precisamos aprender a ter um espírito ensinável, um coração que se sujeita à ministração de Deus através dos irmãos:
“Sujeitando-vos uns ao outros no temor do Senhor.”
É de suma importância que nos conscientizemos do papel da correção e da repreensão dentro da casa do Senhor. O livro de Provérbios nos dá vários conselhos acerca das formas errada e correta de vermos a repreensão.
Vejamos dois textos de Provérbios que falam da maneira errada de se relacionar com a repreensão: um fala de ignorar a repreensão e outro de odiá-la:
“Quem acolhe a disciplina mostra o caminho da vida, mas quem ignora a repreensão desencaminha outros.” (Provérbios 10.17 – NVI)
“Todo o que ama a disciplina ama o conhecimento, mas aquele que odeia a repreensão é tolo.”
Agora vejamos dois textos de Provérbios que falam da maneira correta de se relacionar com a repreensão. O primeiro mostra que o prudente é ensinável, pois se abre para a correção; o outro revela que quem atenta para a repreensão lucra com isso!
“A repreensão faz marca mais profunda no homem de entendimento do que cem açoites no tolo.”
“Como brinco de ouro e enfeite de ouro fino é a repreensão dada com sabedoria a quem se dispõe a ouvir.”
CONCLUINDO
Precisamos aprender a ouvir a repreensão. Por mais desconfortável que seja no momento em que a recebemos, devemos lembrar que depois ela produzirá cura e restauração:
“Na verdade, nenhuma correção parece no momento ser motivo de gozo, porém de tristeza; mas depois produz fruto pacífico de justiça nos que por ela têm sido exercitados.”
Também precisamos aprender a repreender nossos irmãos quando estão em erro. Tenho conhecido tantas pessoas que assistiram a verdadeiros desastres na vida de outros que lhes eram queridos, mas não quiseram falar nada para não se indisporem, para não comprometerem o relacionamento.
Alguns preferem não se indispor, e evitam a repreensão. Porém, não corrigir quem está errado é pecado de cumplicidade. Observe o que a Palavra de Deus ensina sobre isto:
“Não guardem ódio contra o seu irmão no coração; antes repreendam com franqueza o seu próximo para que, por causa dele, não sofram as consequências de um pecado.”
Se meu irmão errou, não posso guardar mágoa contra ele. Na verdade, o versículo seguinte afirma:
“Não procurem vingança, nem guardem rancor contra alguém do seu povo, mas amem cada um o seu próximo como a si mesmo”
O andar em amor (e não guardar rancor) envolve repreender o irmão que errou. Quem não repreende e deixa o outro no erro é cúmplice. Quem não confronta, e fica com o coração errado pela falta de concerto, também peca!
O problema não é falar a verdade, e sim a forma como o fazemos. Se falarmos a verdade em amor, seremos melhor recebidos. Se o fizermos num espírito altivo, haverá problemas. Ainda assim, a repreensão será uma ferida. Trará tristeza momentânea. Porém, a cura que dela brotará estará continuamente dizendo: valeu a pena! Dwight Lyman Moody, o grande evangelista, fez a seguinte afirmação:
“Os rudes entalhes da repreensão têm o único objetivo de colocar-nos no prumo, para que sejamos utilizados no edifício celestial”.
Precisamos aprender a ser corrigidos. Creio que devemos orar ao Senhor e pedir-lhe um coração ensinável. E por outro lado, além de aprendermos a ser corrigidos, devemos aprender a corrigir. Não podemos assistir o erro e permanecer quietos.
Devemos, por amor ao Corpo de Cristo e obediência à Palavra, corrigir. Confrontos são inevitáveis em qualquer tipo de relacionamento, e na igreja não será diferente. Paulo confrontou Pedro, Barnabé e outros em público, e haverá momentos em que nós teremos que fazer algo semelhante. Portanto, penso que devemos nos preparar em oração para isto também.
E depois de aprendermos a corrigir e ser corrigidos, penso que devemos ensinar nossos filhos, discípulos e liderados a fazerem o mesmo… Que o Senhor nos ajude!
Autor: Luciano P. Subirá. É o responsável pelo Orvalho.Com – um ministério de ensino bíblico ao Corpo de Cristo. Também é pastor da Comunidade Alcance em Curitiba/PR. Casado com Kelly, é pai de dois filhos: Israel e Lissa.