“Por isso, aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor, indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e, assim, coma do pão, e beba do cálice; pois quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si. Eis a razão por que há entre vós muitos fracos e doentes e não poucos que dormem. Porque, se nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados.”
Este é um texto que fala não apenas sobre a Ceia do Senhor, mas que também nos revela alguns fatos importantes sobre a dimensão espiritual com a qual nos relacionamos.
As nossas atitudes nunca são neutras. Elas produzem bênção ou maldição em nossas vidas! O cálice da Ceia é chamado por Paulo de “cálice da bênção” (1 Co 10.16). No entanto, no texto transcrito acima, vemos que a mesma Ceia que traz bênção também pode trazer juízo e maldição sobre os crentes!
Podemos perceber que a Ceia do Senhor é um ato com conseqüências espirituais. A Igreja de Corinto tinha todos os dons do Espírito Santo em operação (1 Co 1.7), o que incluía os dons de cura, mas, mesmo assim, havia entre eles muitos fracos e doentes, bem como mortes prematuras. O apóstolo chamou isto de “sermos julgados”. O meu propósito aqui não é enfocar a Ceia do Senhor em si, e sim um princípio que tanto se enquadra em sua prática, como em outras práticas espirituais, incluindo-se as nossas contribuições financeiras. É o princípio de se discernir o Corpo de Cristo.
A Igreja de Jesus Cristo, de um modo geral, precisa reconhecer que tem tropeçado em princípios vitais, que a impedem de andar no melhor de Deus, e a falta de discernirmos o Corpo de Cristo é um desses tropeços.
Comecei a receber luz acerca deste assunto, ouvindo uma pregação ministrada por Turner Nelson (de Trinidad e Tobago), quando ele esteve na cidade de Londrina, Paraná, em 1993. E, nos últimos anos, o Senhor tem me inquietado bastante acerca deste princípio.
Se tomarmos a falta do discernimento do Corpo de Cristo como um princípio de maldição, também estaremos reconhecendo que a atitude inversa é um princípio de bênção. Os crentes da Igreja de Corinto foram julgados (em sua saúde) por não discernirem o Corpo; se o tivessem discernido, certamente teriam sido abençoados com saúde.
Vários outros textos bíblicos revelam este princípio (de discernirmos Jesus por trás de pessoas ou situações) como um meio de andarmos na vontade (e bênção) de Deus. O Senhor Jesus Cristo disse que as pessoas serão julgadas por terem feito o bem a Ele ou não. E, ao perguntarem quando Lhe fizeram (ou não) o bem, Ele lhes responderá que foi quando fizeram o bem (ou não) às pessoas ao seu redor:
“Porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me hospedastes; estava nu, e me vestistes; enfermo, e me visitastes; preso, e fostes ver-me. Então, perguntarão os justos: Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer? Ou com sede e te demos de beber? E quando te vimos forasteiro e te hospedamos? Ou nu e te vestimos? E quando te vimos enfermo ou preso e te fomos visitar? O Rei, respondendo, lhes dirá: Em verdade vos afirmo que, sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.”
Precisamos servir as pessoas, vendo a Jesus por trás delas. Discerní-Lo por trás de uma situação ou de pessoas é uma premissa de bênção!
O apóstolo Paulo também ensinou sobre este princípio divino. Ele disse aos servos para trabalharem, não para agradarem a seus patrões, mas ao Senhor Jesus, pois é a Ele que estavam servindo ao trabalharem:
“Servos, obedecei em tudo ao vosso senhor segundo a carne, não servindo apenas sob vigilância, visando tão-somente agradar homens, mas em singeleza de coração, temendo ao Senhor. Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor e não para homens, cientes de que recebereis do Senhor a recompensa da herança. A Cristo, o Senhor, é que estais servindo.”
Se discernirmos ao Senhor por trás do nosso trabalho (ou de nossos patrões) e fizermos o nosso serviço com esta consciência, então certamente seremos recompensados!
No versículo 24, o apóstolo declara que eles seriam abençoados por isso: “cientes de que recebereis do Senhor a recompensa”. De modo semelhante, precisamos ver o Senhor Jesus por trás das nossas contribuições. Não podemos ofertar ao homem, nem a uma organização! Temos que ofertar ao Senhor Jesus!
DOIS ASPECTOS DISTINTOS
Quando mencionamos o Corpo do Senhor Jesus, precisamos compreender que o ensino bíblico abrange dois aspectos distintos sobre o assunto.
Um deles é o corpo físico do nosso Senhor, com o qual Ele viveu aqui na terra, sentiu fome, sede, cansaço. Mesmo depois que Ele morreu, este corpo não deixou de existir, pois foi ressuscitado sem conhecer a corrupção e passou pelo processo da glorificação (Lc 24.36-43,50).
O outro aspecto é o Corpo Místico de Jesus Cristo, a Sua Igreja, que chamamos redundantemente de “Corpo Corporativo”:
“Ele lhe sujeitou todas as coisas debaixo dos pés e para ser cabeça sobre todas as coisas o deu à igreja, a qual é o seu corpo, o complemento daquele que enche tudo em todas as coisas.”
A Igreja do Senhor Jesus é chamada de Seu Corpo, Seu “Complemento”. Isto é para nós um fundamento bíblico inquestionável:
“Porque, assim como o corpo é um e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, são um só corpo, assim é Cristo também. Pois todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres, e todos temos bebido de um Espírito. Porque também o corpo não é um só membro, mas muitos.” (1 Coríntios 12.12-14)
ENTENDENDO O PARALELO
É relevante o fato de destacarmos estes dois diferentes aspectos do Corpo do Senhor, porque isto nos ajudará a entendermos um paralelo espiritual de grande importância. A nossa ênfase aqui é no cuidado, ou na manutenção do Corpo de Cristo.
Quando o Senhor Jesus Cristo caminhou nesta terra com um corpo físico igual ao nosso, Ele foi cercado de proteção e carinho que o Pai Celestial, por meio de pessoas, Lhe ofereceu.
José e Maria merecem destaque em seu papel de suprir e proteger a Jesus Cristo. Eles não só alimentaram, aqueceram e cuidaram do Seu corpo, mas também o protegeram. O registro dos Evangelhos nos informa que José, ao tomar conhecimento (por divina revelação) de que Herodes procuraria matar a Jesus, fugiu com a sua família para o Egito (Mt 2.13,14). Antes que isto acontecesse, Deus supriu os recursos para este tempo de viagem e para a sobrevivência deles, através das ofertas que os reis magos trouxeram (Mt 2.11).
Quando Jesus já não estava mais sob os cuidados de Seus pais, quando Ele já Se encontrava em Sua fase adulta, em que deu início ao Seu ministério, Deus supriu outras pessoas para continuarem estendendo a Ele o mesmo tipo de cuidados para a Sua sobrevivência:
“Depois disso Jesus ia passando pelas cidades e povoados proclamando as boas novas do Reino de Deus. Os Doze estavam com ele, e também algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e doenças: Maria, chamada Madalena, de quem haviam saído sete demônios; Joana, mulher de Cuza, administrador da casa de Herodes; Susana e muitas outras. Essas mulheres ajudavam a sustentá-los com os seus bens.”
Por que Jesus precisava de dinheiro?
Porque, semelhantemente a mim e a você, Ele comia, Se vestia, e em Suas viagens Ele precisava de hospedagem (embora nem sempre gastasse com isso) e outras coisas que exigiam pagamento.
E por que eram tão importantes os cuidados com o corpo do Senhor Jesus e com as Suas necessidades?
Porque era por meio do Seu corpo que Jesus agia! Além disso, todas as bênçãos que Deus oferece à humanidade são devidas à vitória que Cristo consumou no mistério da Sua Encarnação – em corpo e em carne!
CUIDADOS COM O CORPO HOJE
Este é o ponto crucial sobre o qual eu gostaria que você refletisse: há um paralelo entre os cuidados que Deus providenciou ao corpo de Jesus, quando Ele viveu aqui na terra, e os cuidados que nós devemos ter hoje com o Seu Corpo, a Sua Igreja.
E a razão pela qual devemos cuidar deste Corpo (a Igreja) ainda é a mesma que a da época em que Deus moveu pessoas a cuidarem do corpo físico de Jesus: Ele age por meio do Seu Corpo.
É impossível à nossa geração servir o corpo físico de Cristo como a geração de Seus dias o fez. Contudo, atualmente podemos servir ao Seu Corpo espiritual, a Igreja. Isso se estende à área dos relacionamentos e da comunhão, que produzem a harmonia no “Corpo Corporativo”. Contudo, eu gostaria de enfatizar principalmente a importância de vermos a Igreja (como Seu Corpo) por trás de tudo o que nos dedicamos a fazer!
Para cumprir o seu papel aqui na terra, a Igreja do Senhor precisa que cuidados (ou manutenção) sejam dispensados a ela. Já é tempo de mudarmos a nossa mentalidade ao contribuirmos. Quando contribuímos, não estamos dando dinheiro a um pastor, igreja local, ou ministério. Estamos fazendo algo pelo Corpo de Cristo e pelo Reino de Deus!
As pessoas que ofertam sem este discernimento e paixão não experimentam a dimensão de bênçãos que está reservada aos que discernem o Corpo de Cristo por trás das atividades ministeriais.
Eu inclusive ouso afirmar que, assim como a nossa participação na Santa Ceia sem discernirmos o Corpo do Senhor não permite que sejamos abençoados (pelo contrário, podemos até mesmo ser julgados), assim também a nossa contribuição sem discernirmos o Corpo do Senhor Jesus não muda absolutamente a nossa sorte!
Da mesma forma que os irmãos de Corinto não podiam provar da bênção da saúde e da cura proveniente do corpo ferido de Jesus (a ponto de haver naquela igreja muitos fracos, doentes e mortos prematuros), assim também hoje, na Igreja de Cristo Jesus, há muitas pessoas que, mesmo contribuindo, continuam sem experimentar uma provisão financeira.
Não basta apenas darmos o nosso dinheiro! Temos que fazê-lo da maneira certa, com o discernimento espiritual de onde e porque estamos investindo, e movidos pelo amor à obra de Deus (2 Co 9.7).
De todas as pessoas que demonstraram este cuidado, há uma que se destaca, da qual já falamos no primeiro capítulo deste livro: Maria de Betânia, irmã de Marta e Lázaro. Lemos em Marcos 14.3-9 que ela teve uma das mais belas atitudes de adoração e oferta já demonstradas ao Senhor Jesus. Esta é a razão de falarmos dela no primeiro e no último capítulo deste livro. E Jesus faz a importante observação de que ela fez algo pelo Seu Corpo:
“Esta fez o que podia; antecipou-se a ungir o meu corpo para a sepultura.”
E o Senhor a honrou sobremaneira por ter agido desta forma. Aliás, Deus sempre honra os que fazem algo em prol do Seu Corpo.
Desde o Seu nascimento até a Sua morte, o Senhor Jesus foi servido por pessoas que Lhe dispensaram cuidados e investimentos financeiros em prol do Seu corpo. Até mesmo depois da Sua morte, vemos pessoas de posição e prestígio fazendo isto. José de Arimatéia, por exemplo, usou a influência que tinha diante de Pilatos para pedir o corpo de Jesus Cristo (Lc 23.50-53) e sepultá-lo com honra. Creio que isto também é um paralelo do que acontece conosco hoje!
Você não chegou a ocupar nenhuma posição social sem um propósito. Se Deus lhe deu dinheiro, posição, ou prestígio, não foi para que você usasse tudo isto somente para o seu benefício próprio, mas para que você os usasse em prol do Corpo de Cristo aqui na terra.
Quando Mardoqueu enviou um recado à Rainha Ester, sua sobrinha, para que ela intercedesse junto ao rei a favor do povo de Israel, ele acrescentou o seguinte comentário:
“…e quem sabe se para tal tempo como este chegaste a este reino?”
Esta frase nos mostra uma antiga crença no meio do povo de Deus. Em Sua soberania, o Senhor guia estrategicamente as nossas vidas. Foi assim com Ester! Mardoqueu estava lhe dizendo algo assim: “Não é possível que Deus tenha lhe dado tudo isto para algum outro propósito, a não ser para que você faça algo pelo povo d’Ele!”
O Senhor deseja nos usar onde estivermos e com o que possuirmos. Abra os seus olhos e esteja atento para discernir as oportunidades de você servir ao Corpo do Senhor. Os reis magos fizeram uma longa viagem e deram presentes caros porque eles viram alguma coisa que a maioria não viu! “Discernir” significa: “ver distintamente, distinguir, conhecer claramente”.
O fornecimento de cuidados materiais ao Corpo do Senhor libera bênçãos. O contrário, no entanto, traz maldições. Judas não só perdeu a chance de servir ao corpo do Senhor, mas também tentou lesá-lo, e a maldição que ele colheu é patente!
Quando investimos na obra de Deus com este discernimento (de que estamos fazendo algo pelo Corpo de Cristo) somos abençoados. E, se algum “espertinho” tentar se aproveitar do amor que expressamos e fizer um mal-uso ou uma apropriação indébita, ele certamente pagará por isso! Deus o julgará, mas quem contribuiu com amor será abençoado!
A bênção não vem pela aplicação que é feita com os recursos, e sim pelo discernimento espiritual que temos em nosso coração sobre a verdadeira razão para darmos.
Se discernirmos o Corpo de Cristo por trás das oportunidades que temos de ofertarmos, então a bênção já estará determinada, muito antes de se decidir sobre o emprego do dinheiro.
É lógico que os cuidados para com o Corpo de Cristo não se dão apenas por meio das nossas contribuições financeiras. Há outras formas de expressá-los e que devem acompanhar esta atitude.
Quando exercemos um ministério, estamos servindo ao Corpo de Cristo. O crente que não se dispõe a trabalhar pelo Reino demonstra que não discerne o Corpo do Senhor. O crente que não coopera com os que estão servindo a Igreja também não discerne o Corpo do Senhor. Já é hora de buscarmos do alto uma compreensão mais profunda sobre o que estamos fazendo aqui na terra.
Eu sonho com uma geração que haverá de revolucionar o mundo com o Evangelho de Cristo. A história nos ensina que toda revolução tem pelo menos três ingredientes:
1) Uma nova mensagem;
2) Pessoas dispostas a trabalharem pela causa (e até mesmo morrerem por ela);
3) Recursos que financiem a causa.
Enquanto não nos doarmos ao Senhor e não disponibilizarmos os nossos recursos materiais, a nossa mensagem não terá o efeito que deveria ter. Deus está nos chamando a revermos isto!
É hora de discernirmos o Corpo de Cristo e de fazermos mais, começando pela Sua Igreja. As nossas atitudes devem refletir este entendimento. E a nossa prática deste entendimento liberará muito mais de Deus sobre as nossas vidas. Que o Pai Celestial nos ajude a crescermos neste discernimento!
(Extraído do livro “Uma Questão de Honra“, de Luciano Subirá)
Autor: Luciano P. Subirá. É o responsável pelo Orvalho.Com – um ministério de ensino bíblico ao Corpo de Cristo. Também é pastor da Comunidade Alcance em Curitiba/PR. Casado com Kelly, é pai de dois filhos: Israel e Lissa.