Como foi difícil para mim entender que o amor é muito maior que a bondade. Deixe-me tentar explicar isso com uma analogia muito simples. Se você tem filhos, tenho certeza de que irá me entender. Talvez me entenda ainda melhor se for mãe. Imagine a seguinte cena:
São mais ou menos onze horas da manhã e você acaba de fazer suas compras no supermercado. Você comprou algumas coisas que faltavam para o almoço, frutas frescas, verduras, sucos, etc. Entre outras coisas, comprou alguns pacotes de uma das guloseimas que sua filhinha de cinco anos mais gosta – bolachas recheadas.
Você acabou de pagar pelas compras. Está, agora, empurrando o carrinho apressadamente em direção ao seu carro, que está no estacionamento. Você abre o porta-malas e começa a ajeitas as compras sem perder tempo. Já é quase hora do almoço!
Em sua pressa você não percebeu, mas uma garotinha, provavelmente da mesma idade de sua filha, aproximou-se.
De repente uma “vozinha” doce de criança soa ao seu lado: “Tia, tem alguma coisa para me dar? Eu estou com fome, ainda não comi nada hoje.”
Seu coração se parte em mil pedaços quando se vira para o lado e a vê: aquela garotinha sujinha, esfarrapadas, notadamente privada de necessidades tão básicas como a de alimentar-se. Mas nem mesmo a sujeira e as roupas esfarrapadas foram capazes de esconder a beleza e inocência encantadoras daquela criança.
Sem vacilar nenhum segundo, você pega um dos pacotes de bolachas recheadas que havia comprado e dá a menininha. Os olhos dela brilham e um belo sorriso ilumina seu rostinho angelical. Ela, rapidamente, pega o pacote com as duas mãos e diz: “Obrigada, tia! Deus que ajude!” E vai-se embora correndo e saltitando.
Aquela cena alegra seu coração. Você abre também um largo sorriso e seus olhos umedecem enquanto para por um momento, vendo-a se afastar. Após um breve e profundo suspiro, você se volta, fecha o porta-malas, e apressadamente, entra no carro.
No curto trajeto em direção à sua casa, você começa a pensar no que acabou de acontecer. Pensa em como aquela criança deveria estar com fome e como seria bom para ela comer qualquer coisa, quanto mais um pacote de bolachas recheadas; as crianças adoram. A imagem da alegria e do sorriso no rostinho dela fazem você se sentir muito bem. Você fez algo bom! Tirou a fome e alegrou o dia daquela criaturinha tão doce e carente. Aquela realmente foi uma boa atitude! E você está totalmente certa em sentir-se bem por ela.
Ao chegar em casa, entra na cozinha carregando suas compras. Começa a colocar tudo em seu devido lugar. Sua filhinha ainda de pijama, entra na cozinha e estende os braços pedindo um abraço. Você olha para ela e, inevitavelmente, lembra-se da garotinha do supermercado. Parece que todo os eu amor por sua filha é aflorado. Você a pega no colo, dá um abraço apertado e, antes de colocá-la novamente no chão, dá um beijo caloroso, sentindo todo o seu amor por ela.
Com a curiosidade natural de todas as crianças, ela começa a vasculhar as sacolas e perguntar: “O que você comprou, mamãe?”
De repente, os olhos dela estalam, um sorriso que brilha de surpresa e satisfação enche seu rostinho e ela diz:
“Oba! Você trouxe bolacha recheada! Eu quero uma, mamãe!”
Mas, imediatamente, você tira as bolachas do alcance dela e diz de forma amorosa, porém firme:
“Agora não, meu amor. Você precisa almoçar primeiro.”
Você não se importa em negar-lhe o pedido. Mesmo sabendo que o que ela queria eram as bolachas e não o almoço. Mesmo sabendo que o que a deixaria feliz naquele momento seriam as bolachas e não o arroz com carne e brócolis, você não se sente nem um pouco desconfortável em negar o seu pedido. Ao contrário, você tira as bolachas de seu alcance por enquanto. Por quê? Porque o amor é maior que a bondade.
Sentiu-se fazendo uma bondade em dar o pacote de bolachas à criança que encontrou no estacionamento do supermercado, por que não sente o mesmo em dar as bolachas a sua filha? Porque o amor vai além da bondade! Você sabe que o melhor para sua filha é não dar as bolachas a ela antes que almoce e, não seria saudável fazer o contrário. O amor é maior que a bondade! Mas muitas vezes o que estamos esperando de Deus é aquilo que nos parece bom.
Essas verdades de descortinaram diante de mim. Eu entendi que Deus estava muito mais interessado em me dar aquilo que eu preciso do que aquilo que eu quero.
Gosto muito da forma que C. S. Lewis fala sobre a diferença entre amor e bondade, como uma explanação de Hebreus 12:8:
“Como salientam as escrituras, os filhos ilegítimos é que não são disciplinados: os filhos legítimos, que devem levar adiante a tradição da família, esses recebem disciplina. É para pessoas que em nada nos preocupamos que demandamos a felicidade em quaisquer condições. Já com as pessoas que amamos – nossos amigos, nossos filhos -, somos exigentes e preferimos vê-los sofrer muito a vê-los felizes segundo costumes desprezíveis e torpes. Se Deus é Amor, Ele é, por definição, algo mais do que simples benevolência. E, a julgar por todos os registros, parece que, embora Ele não raro nos tenha repreendido e condenado, jamais nos considerou com desprezo. Ele nos resgatou com Seu amor intolerável, no sentido mais profundo, mais trágico e mais inexorável”
Texto extraído do livro “Valentes pela Verdade”
Autor: Farley Labatut. Farley é pastor na Comunidade Alcance de Curitiba. Além de servir na igreja local, liderando os ministérios de ensino e de jovens, ele tem se dedicado a servir o Reino. Pregador e conferencista, junto com sua esposa Danielle Labatut, lidera o Ministério Valentes Pela Verdade, com o intuito de proclamar, ensinar e defender as Escrituras. O casal tem 3 filhos, Calebe, Nicole e Louise.