O perdão é um dos temas centrais do evangelho e, ao mesmo tempo, um dos mais difíceis de praticar. É algo que confronta nossa carne, porque nos parece injusto liberar alguém que nos feriu. No entanto, quando olhamos para Jesus e para Estêvão, vemos que o perdão não é apenas um mandamento, mas uma arma espiritual capaz de transformar vidas e libertar corações.
Quando estava na cruz, Jesus orou: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc 23.34). Da mesma forma, Estêvão, o primeiro mártir da igreja, ao ser apedrejado, clamou: “Senhor, não os condenes por causa deste pecado” (At 7.60). Ambos, em meio à dor e à injustiça, escolheram liberar perdão.
Esse tipo de atitude não nasce da natureza humana, mas da ação do Espírito Santo. Jesus, sendo Deus, demonstrou sua graça; Estêvão, sendo homem como nós, mostrou que esse mesmo poder está disponível a todo aquele que crê.
O perdão que gera transformação
A oração de Estêvão impactou diretamente a vida de Saulo, que testemunhou sua morte. Anos depois, Saulo se tornaria Paulo, o apóstolo que escreveria quase metade do Novo Testamento. O perdão liberado naquele momento se tornou semente de vida para as nações.
O perdão não é apenas sobre quem ofendeu, mas sobre o futuro que pode ser gerado a partir desse ato. Quando escolhemos perdoar, damos espaço para que Deus aja com sua justiça criativa.
Perdão: uma questão comunitária
A Bíblia mostra que o perdão não é apenas individual, mas também comunitário. Jesus disse ao paralítico: “Filho, os seus pecados estão perdoados” (Mc 2.5), baseando-se na fé dos amigos que o levaram até ele. Isso nos ensina que nossas decisões de liberar perdão ou reter mágoa afetam não só a nós mesmos, mas também toda a comunidade em que vivemos.
A falta de perdão sufoca, prende e desintegra relacionamentos. Mas o perdão liberta, reconcilia e restaura.
Perdão e cicatrizes
Após a ressurreição, Jesus mostrou suas cicatrizes aos discípulos e declarou paz (Jo 20.19-23). Ele poderia ter cobrado deles por abandoná-lo, mas escolheu liberar perdão e soprar o Espírito Santo. Suas cicatrizes não eram sinais de derrota, mas de redenção. Assim também nossas cicatrizes, quando entregues a Cristo, se tornam testemunho de cura e graça.
Justiça do Reino
No mundo, justiça está ligada à punição. No Reino, justiça está ligada ao perdão. Isso não significa ignorar o pecado, mas enfrentá-lo à luz da cruz e permitir que Deus trate tanto a vítima quanto o ofensor. Como disse Paulo, todo julgamento deve ter como objetivo a restauração (1Co 5.5).
Sem perdão, não existe justiça verdadeira, apenas ciclos de vingança. Mas com perdão, o Reino de Deus se estabelece.
A parábola dos dois servos
Em Mateus 18, Jesus contou a história de um servo que devia uma quantia impagável. O senhor o perdoou, mas ele se recusou a perdoar o colega que lhe devia pouco. A consequência foi severa: ele foi entregue aos torturadores.
Jesus foi claro: o perdão não é opcional. Ele é uma questão de vida ou morte espiritual. Se retemos o perdão, nos tornamos prisioneiros do ódio; mas quando liberamos perdão, descobrimos que o maior liberto somos nós mesmos.
Perdoar não é fácil, mas é o caminho do Reino. É encarar o pecado, entregar a dor a Deus e confiar que ele é justo. Quando escolhemos perdoar, experimentamos a verdadeira paz, somos curados por dentro e nos tornamos instrumentos de reconciliação.
O perdão não significa esquecer ou ignorar, mas escolher ver a realidade sob a perspectiva de Deus. Assim como Jesus e Estêvão, somos chamados a gastar até o último suspiro proclamando: “Pai, perdoa-lhes”.
TEXTO BASEADO NO LIVRO: “PALAVRAS COM DEUS” DE ADDISON D. BEVERE ADQUIRA JÁ EM LOJA.ORVALHO.COM