“Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á.”
Quem tenta salvar sua vida desse processo de morte para si mesmo acaba perdendo (deixando de desfrutar a plenitude do que Deus tem para nós), mas por outro lado, os que se dispõem a perder a sua própria vida, aceitando a exigência de Cristo acabam ganhando com isso (certamente provarão mais do que Deus tem para eles). Ou seja, a perda (a entrega) se torna em ganho (mais de Deus) e o ganho (tentativa de escapar da cruz) se torna em perda (menos de Deus).
Só isso já seria, por si, motivo suficiente para não evitar a cruz que Cristo determinou que seus discípulos carreguem. Mas há algo mais. Há outro motivo para não evitarmos isso. E penso ser igualmente necessário compreendê-lo.
Ao longo da história da igreja os que contribuíram para o avanço e estabelecimento do reino de Deus foram os que mais se renderam ao Senhor por meio do sacrifício de si mesmos. Isso é um fato confirmado na história da igreja. Talvez a pergunta a ser feita no tocante a isso, seja: “Por que essas pessoas realizaram mais?
Acredito que, quando já nos doamos a Deus a ponto de morrer para nós mesmos, não temos mais nada a perder e não podemos ser detidos por nada. É o que a Palavra de Deus nos revela, no livro de Apocalipse, quando fala daqueles que venceram Satanás:
“Eles, pois, o venceram por causa do sangue do cordeiro e por causa da palavra do testemunho que deram e, mesmo em face da morte, não amaram a própria vida”
Normalmente falamos daqueles que venceram o diabo e damos ênfase somente ao sangue do cordeiro e à palavra do testemunho como recursos para essa vitória. Mas há um terceiro recurso nessa lista que tem sido ignorado nessa receita para vencer o inimigo: “mesmo em face da morte, eles não amaram suas vidas!” Eram pessoas que faziam coro com a declaração de Paulo:
“Todavia, não me importo, nem considero a minha vida de valor algum para mim mesmo, se tão somente puder terminar a corrida e completar o ministério que o Senhor Jesus me confiou, de testemunhar do evangelho da graça de Deus”
Há algo por trás dessa disposição de colocar o Senhor acima de tudo e de todos em nossas vidas, de chegar ao ponto em que nada mais importa, que pode nos levar a uma dimensão extraordinária de conquistas em prol do reino. Paulo sabia disso. E, repito, muitos dos que ajudaram a escrever a história da igreja de Cristo também demonstraram, na prática e por declarações, que entendiam esse princípio. John Wesley, fundador do metodismo, e um ícone no reavivamento da Inglaterra no século 18 dizia: “Senhor, dá-me 100 homens que odeiem o pecado e não desejem
mais nada além de ti, então abalarei o mundo”.
Vamos considerar, por um instante, os mártires que, ao longo da história, deram suas vidas por amor a Cristo. Nem todo cristão tem de ser um amante da história, mas penso que esse é um assunto que merecia um pouco mais da nossa consideração. A igreja de Cristo foi edificada com o derramar não só do suor da labuta de muitos obreiros mas também com o sangue de muitos santos que, literalmente, se sacrificaram por causa do evangelho! A geração atual talvez não entenda essa dimensão de compromisso, muito menos a nobreza espiritual daqueles crentes. Gosto da definição do livro de Hebreus que fala sobre alguns de quem o mundo não era digno (Hb 11.38).
Se a Bíblia declara que a forma de alguns crentes vencerem ao diabo foi mesmo em face da morte, não amaram a própria vida (Ap 12.11), pressupõe-se que Satanás estava por trás das ameaças de morte (e até a sua execução) deles. Porém, vale questionar o seguinte: “Por que o diabo tentaria levar a morte para esses cristãos? Seria somente pelo fato de vê-los como ameaça e desejar pará-los?” A história comprova que um martírio somente fortalece uma causa, não a debilita. Então por que Satanás tentou usar essa arma contra os santos?
Descobri, nas Escrituras, que o diabo não quis usar a morte nessas tentativas de parar os crentes. Sua força de intimidação contra as pessoas era outra. Observe o que a Bíblia diz sobre isso:
"Portanto, visto que os filhos são pessoas de carne e sangue, ele também participou dessa condição humana, para que, por sua morte, derrotasse aquele que tem o poder da morte, isto é, o diabo, e libertasse aqueles que durante toda a vida estiveram escravizados pelo medo da morte"
O texto revela que Jesus derrotou quem detinha o poder da morte, a saber o diabo. Mas também nos informa como é que Satanás escravizava as pessoas: “pelo medo da morte”. Embora tivesse o poder da morte, a escravidão do Maligno não era imposta pela morte em si, mas, sim, pelo medo dela!
O que isso significa? Que o diabo não consegue dominar quem não tem medo da morte. E por isso que Apocalipse 12.11 fala de crentes que o venceram por não amarem a sua vida!
A vida deles não era “valiosa demais” para eles como era para aqueles que a Bíblia classificou como “amantes de si mesmos”. Josif Ton afirmou: “Quando você coloca a vida no altar, quando se prontifica e aceita morrer, você se torna invencível. Não tem mais nada a perder”. Quem já entregou sua vida e tudo de si a Cristo, não tem mais nada a perder. Não há ameaças que possam intimidá-lo. É por isso que vemos, no livro de Atos, uma igreja “imparável”. Não havia prisões, ameaças, perseguições, martírios que pudessem parar aquela primeira geração de cristãos.
Que nível de rendição e entrega você já alcançou? Você já se dispôs ao mais profundo nível de doação a Deus? Ou sua vida ainda é valiosa demais aos seus próprios olhos? Essas são perguntas que precisamos fazer periodicamente.
Alcançar essa dimensão de entrega e rendição em que nada mais importe, nem mesmo a nossa própria vida, não apenas fortalecerá nossa intimidade e comunhão com o Senhor, como também nos tornará “imparáveis” e invencíveis diante de nosso Adversário.
Texto extraído do livro “Até que Nada Mais Importe”
Autor: Luciano P. Subirá. É o responsável pelo Orvalho.Com – um ministério de ensino bíblico ao Corpo de Cristo. Também é pastor da Comunidade Alcance em Curitiba/PR. Casado com Kelly, é pai de dois filhos: Israel e Lissa.