Precisamos compreender mais acerca do papel do nosso próprio espírito dentro da vida cristã. Em razão disto, quero estabelecer neste estudo alguns conceitos sobre o espírito humano e sua importância.
ESPÍRITO, ALMA, E CORPO
O homem foi criado por Deus como um ser tripartido. Nossa constituição é esta: espírito, alma e corpo. As Escrituras, ao mencionarem estas três partes distintas, referem-se a elas como se tratando do nosso ser inteiro, da nossa plenitude.
“E o próprio Deus de paz vos santifique completamente; e o vosso espírito, e alma, e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo”
Atente para o termo “completamente”. Para o escritor a santificação completa é a conservação irrepreensível das três partes. Mas as Escrituras fazem clara distinção entre espírito e alma; de fato, ambos compõem aquilo que chamamos de “homem interior” (2 Co 4.16), mas são distintos entre si; há um versículo que traz mais luz acerca desta diferença, e convém observá-lo:
“Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até a divisão de alma e espírito, de juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração”.
Nosso texto diz que a Palavra penetra até a DIVISÃO de alma e espírito; logo, há divisão entre um e outro; não são a mesma coisa. Contudo, apesar desta divisão, parece-nos que os dois estão bem próximos, juntos. Tanto, que só a Palavra de Deus, como espada afiada que é, pode separa-los. Na prática diária da vida cristã, a maioria dos crentes sabe muito bem quão difícil é separar o que é alma do que é espírito, mas que são distintos, são! Isto é inegável.
Lemos na Bíblia que o novo-nascimento é o nascer do espírito (Jo 3.6). Isto é algo que se dá instantaneamente. Contudo, escrevendo à pessoas que já haviam experimentado a salvação de Deus em seu espírito (Tg 1.18 e 1 Pe 1.3), Tiago e Pedro falaram da “salvação da alma” como algo que acontece posteriormente ao novo-nascimento do espírito (Tg 1.21 e 1 Pe 1.19). Portanto, assim como a salvação da alma acontece como um processo de restauração pela Palavra de Deus, a regeneração do espírito acontece instantaneamente na ocasião do novo-nascimento. Se o espírito e a alma fossem uma coisa só, certamente não haveria esta distinção na forma como a redenção de Cristo alcança cada um.
SANTUÁRIO DE DEUS
Somos santuário de Deus, como diz o Novo Testamento: “Não sabeis vós que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?”
No passado, Deus ordenou que lhe construíssem um santuário com detalhes que Ele mesmo havia dado, e sob a direção de Moisés, o povo de Israel o fez. Mais tarde, Salomão construiu um magnífico templo em lugar da tenda do tabernáculo. Mas quando o povo israelita foi levado em cativeiro para a Babilônia, o templo foi demolido e queimado, e somente depois de regresso da nação nos dias de Esdras e Neemias é que foi reconstruído. Nas três vezes, seguiu-se a direção inicial que o Senhor havia dado a Moisés, e a Casa do Senhor sempre teve três ambientes distintos onde os sacerdotes serviam: o Santo dos Santos, o Lugar Santo, e o Átrio Exterior. Logo, podemos dizer que o santuário sempre foi tripartido.
No Novo Testamento vemos uma nova ênfase quanto ao santuário de Deus, e ela já não tem mais nada a ver com os templos construídos. Na sua última pregação, Estevão declarou: “Mas o Altíssimo não habita em templos feitos por mãos de homens…” (At 7.48), e antes de tornar-se o primeiro mártir da Igreja, depositou esta mensagem no coração de seu perseguidor, que mais tarde viria a escrever que o santuário de Deus somos nós!
A Igreja em seu início compreendia isto. Quando Jesus bradou na cruz “está consumado!”, o véu do templo se rasgou de alto a baixo. A partir deste momento a presença de Deus deixou de estar restrita ao templo e o Pai veio fazer morada em nós, os nascidos de novo.
E como santuário de Deus, também somos tripartidos, à semelhança dos santuários do Velho Testamento que eram figura do santuário da Nova Aliança em Jesus. Cada uma das três partes do santuário corresponde às nossas três partes: espírito, alma e corpo. Olhando o tabernáculo pelo lado de fora, via-se apenas dois ambientes: a parte coberta e a parte descoberta, sendo que a parte coberta era a tenda da revelação e a parte descoberta o átrio exterior. Mas ao entrar na tenda, percebia-se que havia ali dentro dois ambientes totalmente distintos e separados por um véu: o Santo Lugar e o Santo dos Santos (Hb 9.1-3).
Ou seja, olhando apenas de modo superficial, parecia um só ambiente, mas num exame cuidadoso apareciam claramente os dois ambientes. De forma semelhante, ao observar superficialmente o santuário de Deus hoje (que somos nós), reconhecemos apenas duas partes: o homem interior e o homem exterior. Mas um exame das Escrituras (e no nosso próprio íntimo) revelará que a “tenda” do homem interior se subdivide em outras duas partes, separadas apenas por um véu. O homem interior é composto de espírito e alma!
O espírito corresponde ao Santo dos Santos, o lugar mais íntimo, onde se encontrava a presença de Deus e também onde Ele falava. A alma corresponde ao Lugar Santo, e o corpo ao Pátio, ou Átrio Exterior.
A importância de examinarmos estas figuras é compreender que assim como o Santo dos Santos era o lugar mais importante do tabernáculo, assim também o nosso espírito é hoje o lugar “mais importante” do santuário que somos nós! Precisamos tomar consciência do valor do nosso espírito na vida cristã.
O LUGAR ONDE DEUS FALA
Naquela ocasião em que Deus falou com Moisés mandando-o construir a arca, disse que o propiciatório deveria ser feito com vários detalhes que Ele mesmo deu. E então afirmou: “ali virei a ti e falarei contigo”(Ex 25.22). Era, portanto, no Santo dos Santos, lugar da arca, que Deus falava. E hoje, na Nova Aliança? O Senhor continua falando no lugar mais íntimo do santuário, onde está sua santa presença, e este lugar em nós que corresponde ao Santo dos Santos é o nosso espírito. Paulo mencionou isto ao escrever aos irmãos de Roma:
“Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus”.
O Espírito Santo nos guia… Como? Dois versículos depois desta afirmação já encontramos a resposta:
“O Espírito mesmo testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus”. (Rm 8.16)
A direção do Espírito vem através de um TESTIFICAR (testemunhar) no nosso próprio espírito; este é o lugar onde Deus fala.
“O Espírito do homem é a lâmpada do Senhor, a qual esquadrinha todo o mais íntimo do coração”.
O Pai Celeste tem uma lâmpada em nós: nosso espírito. Contudo, muitos de nós, por não desenvolvermos a sensibilidade de nosso próprio espírito, ficamos sem ouvir a voz de Deus. Muitas vezes Deus quer falar conosco através de um testemunho interior, mas nem sequer percebemos que Ele está querendo nos dirigir. É claro que o Senhor fala de muitas maneiras, inclusive espetaculares, como sonhos, visões, profecia, e outras, mas a forma comum de falar conosco é mediante o testemunho de nosso próprio espírito.
ATÉ COM JESUS
Ao se fazer homem, o Senhor Jesus esvaziou-se de sua glória (Fl 2.5-8), bem como de alguns atributos da divindade. O Mestre não estava em vários lugares ao mesmo tempo, pois era limitado pelo corpo. Portanto, mesmo como Deus, viveu na terra sem lançar mão da onipresença. Também viveu sem fazer uso da onipotência, pois precisou do poder do Espírito para fazer a obra que fez. E ele também se limitou a crescer em sabedoria e conhecimento e quando revelava segredos e pensamentos dos corações dos homens, precisava ouvir o Espírito Santo, pois não se movia no atributo divino da onisciência e sim na dependência do Espírito de Deus.
Jesus viveu nesta terra como um homem cheio do Espírito Santo, e é por isso que podemos imitá-lo; se ele tivesse andado nesta terra como Deus (entenda-se: usando tais atributos da divindade), jamais poderia dizer que faríamos as mesmas obras que fez e até maiores! Mas ele dependia do Espírito Santo… e sabe onde o Espírito falava com ele? No mesmo lugar que fala conosco: em nosso espírito. Veja o relato do evangelho:
“Mas Jesus logo percebeu em seu espírito que eles assim arrazoavam dentro de si, e perguntou-lhes: Por que arrozais desse modo em vossos corações?”
Os fariseus estavam apenas pensando, e o Espírito Santo transmitiu uma informação ao espírito de Jesus (como homem) do que aqueles homens cogitavam em seu íntimo, pois é exatamente assim que Deus fala com o homem. Temos em Jesus o exemplo perfeito de uma vida no Espírito; se com ele Deus falava assim, não espere nada diferente; algo distinto desta forma de Deus falar pode nos ocorrer ocasionalmente, mas o dia-a-dia será marcado pelo testemunho do Senhor em nosso espírito.
Nas vezes em que uso o termo “o Espírito Santo fala”, não me refiro a uma voz audível. Às vezes Ele fala assim, mas na maioria das ocasiões é apenas um testificar interior. Por exemplo, como podemos saber que somos filhos de Deus? A Bíblia diz que é o Espírito Santo que testifica, testemunha com nosso espírito que de fato o somos. E como se dá esta testificação? Simplesmente sabemos que somos filhos; algo em nós o diz. É uma certeza no coração e não na mente; não se trata de ser convencido pela razão, mas de ter uma convicção interior. Considere uma outra área de atuação do Espírito Santo, que é trazer a revelação da Palavra de Deus a cada um de nós. Como Ele faz isto? As Escrituras respondem:
“Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque para ele são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente”.
Gosto da versão da Bíblia de Jerusalém, que em lugar da expressão “homem natural” traduz “homem psíquico”. Ou seja, o homem não pode compreender as coisas de Deus com seu psique, pois elas se discernem com o espírito; é no nosso próprio espírito que o Espírito Santo ensina as coisas espirituais, e não na nossa mente (I Co.2:15).
Percebemos mais uma vez, portanto, qual é o lugar onde Deus fala, seja por um testificar ou por revelação da Palavra: o nosso espírito.
EXERCITANDO O ESPÍRITO
Muitos de nós já aprendemos que é possível exercitar o corpo e até a alma (mente). Assim como exercitamos o corpo com ginástica, nossa mente também é exercitada mediante a prática da leitura, cálculo, jogos, etc. Mas e o espírito? Pode ser exercitado? Ora, se corpo e alma se exercitam, porque não o espírito? Certamente que sim! Nossa dificuldade em ouvir Deus começa na insensibilidade do nosso espírito. E a razão de nosso espírito permanecer insensível deve-se ao fato de o usarmos muito pouco. Mas à medida em que o exercitamos, uma nova sensibilidade surgirá.
Nas minhas experiências no sentido de ouvir Deus, percebo que houve crescimento à medida em que o meu espírito foi sendo exercitado pela meditação na Palavra e pela oração em línguas. Quando você está orando em línguas, é seu espírito falando e não sua mente. E o que acontece, se por exemplo você ora duas horas ininterruptas na linguagem do Espírito? Seu espírito terá duas horas de exercício, de atividade intensa e você estará mais consciente dele.
O que acontece conosco se não exercitarmos o corpo? Nossos músculos certamente atrofiarão se não houver exercício físico algum. Recordo-me de certa ocasião na minha adolescência, em que caí de bicicleta e trinquei a rótula do joelho esquerdo; foi necessário passar mais de um mês com a perna imobilizada, e ao fim deste período quando o gesso foi tirado, a perna não dobrava. Levei um bom tempo exercitando-me aos poucos para poder recuperar o movimento e liberdade necessária para voltar às atividades físicas. Isto é atrofia. Com nosso homem espiritual não é diferente; também existe atrofia espiritual. Assim como a diferença entre o físico de um atleta em constante preparo é gritante em relação ao de alguém que veio a conhecer a atrofia, também no reino espiritual há “atletas espirituais” em constante exercício e gozando de boa forma, e há aqueles atrofiados que nunca ouvem o Senhor em nada.
Sei que para muitos é estranho quando falamos sobre ouvir Deus em nosso espírito, uma vez que, na prática, não possuem nenhum referencial do que é isto. Mas nunca exercitaram seu espírito e de repente querem ser atletas espirituais! Isto é muito difícil, pois a sensibilidade é algo que se adquire gradualmente; a atrofia só será removida mediante fisioterapia; lenta e progressivamente. Às vezes, alguns irmãos me perguntam como consigo memorizar versículos e textos bíblicos, como se fosse necessário aprender alguma fórmula; mas a verdade é que eu não me esforço para isto. Sempre investi na leitura, de modo que tenho facilidade para memorizar o que leio, devido ao contínuo exercício nesta área.
Há pessoas que tem grande habilidade com números e cálculos; outros, com certos jogos e raciocínios. Mas o fato é que com tempo e prática cada um exercita sua mente naquilo em que se dedica. Com isso quero exemplificar que com nosso espírito não é diferente; podemos torná-lo mais sensível e consciente através do falar em línguas.
A leitura e meditação na Palavra também tem o seu lugar no fortalecimento do espírito, pois é o alimento espiritual indispensável para a boa saúde e vigor. Contudo, um atleta não adquire um bom físico apenas se alimentando e tomando vitaminas; é necessário combinar isto ao exercício. Semelhantemente, devemos nos alimentar da Palavra, mas também devemos exercitar nosso espírito.
Se você deseja uma vida intensa em Deus, exercite paciente e dedicadamente seu espírito, dia após dia, mediante a meditação na Palavra e a prática do falar em línguas e as mudanças se manifestarão. Aprendi estes princípios há muitos anos atrás lendo os livros de Kenneth Hagin, e decidi pratica-los. Eram-me estranhos a princípio e não foi fácil me dedicar a eles no começo, mas perseverei e eles fizeram toda a diferença! Posso testemunhar que o entendimento deste princípio se tornou uma revolução em minha vida, e esta é a razão que me impulsiona a repartir este estudo com você: funciona e vai leva-lo a um nível mais elevado no seu andar em Deus. Que o Senhor te abençoe!
Autor: Luciano P. Subirá. É o responsável pelo Orvalho.Com – um ministério de ensino bíblico ao Corpo de Cristo. Também é pastor da Comunidade Alcance em Curitiba/PR. Casado com Kelly, é pai de dois filhos: Israel e Lissa.